Por Enzo Carmignolli, Fellipe Reges, Geovana Ribeiro, Rízia David, Sarah Marques e Vitor Daniel Carvalho (Alunos e alunas da disciplina Teorias do Jornalismo, sob a supervisão do professor Rogério Borges)
No vasto e dinâmico cenário da comunicação social, a busca por audiência se tornou uma das principais forças que movem jornalistas e profissionais da comunicação. Em um ambiente cada vez mais saturado, onde a informação é abundante e a atenção do público escassa, os profissionais enfrentam o desafio de atrair e manter o interesse dos consumidores de notícias.
Essa realidade é intensificada pela evolução das plataformas digitais, havendo uma transformação na forma como as pessoas consomem informação. A pesquisa “Perfil do Jornalista Brasileiro 2021”, realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), revela que mais de um terço dos jornalistas brasileiros (34,9%) trabalham fora dos meios tradicionais (jornais, revistas, televisão e rádio), e atuam muitas vezes em assessorias de imprensa, reforçando a importância desse setor na nova configuração da comunicação.
Recentemente, o Portal Comunique-se realizou uma pesquisa, “Jornalistas de redação na visão dos assessores de imprensa”, entrevistando mais de 800 profissionais que atuam diretamente com assessoria de imprensa, em locais como agências, departamentos de comunicação de empresas, órgãos públicos e autônomos. O Portal indicou que 93,9% dos assessores de imprensa consideram o relacionamento com jornalistas fundamental para o sucesso em suas atividades. Essa percepção sublinha a importância da construção de relações sólidas e de confiança, essenciais para a efetividade na comunicação. Um bom relacionamento, segundo os especialistas, é um fator decisivo para facilitar a inserção de pautas nas redações, enquanto a falta de cuidado nas interações pode gerar ruídos que prejudicam o desempenho a longo prazo.
Para otimizar essas relações, os assessores de imprensa são aconselhados a segmentar suas estratégias. De acordo com a pesquisa do Portal Comunique-se, há quatro etapas de segmentação: editoria, localidade, cargo e veículo. O entendimento de que editorias como Saúde, Cultura e Cotidiano são as mais concorridas permite que os profissionais ajustem suas abordagens, criando releases mais direcionados e relevantes. O desafio é ainda maior quando se considera que cada meio de comunicação, seja impresso, rádio ou digital, possui peculiaridades que devem ser respeitadas na hora de “vender” uma pauta.
Além do mais, é notável o aumento da digitalização na sociedade e como resultado temos uma nova forma de consumir notícias. O relatório “Digital News Report 2024”, do Instituto Reuters, destaca uma fragmentação no consumo de notícias, com plataformas como YouTube, WhatsApp e TikTok se tornando cada vez mais relevantes. O TikTok, por exemplo, superou o Twitter (atual X), com 13% dos usuários utilizando a plataforma para se informar. Essa mudança não apenas diversifica as fontes de informação, mas também altera a forma como as notícias são apresentadas. O consumo de vídeos curtos, que dois terços dos usuários acessam semanalmente, mostra que a capacidade de capturar a atenção rapidamente se tornou vital para os comunicadores.
Com mais conteúdos atrativos sendo consumidos, a pressão por audiência pode levar a concessões éticas, uma preocupação crescente entre profissionais de comunicação. Magali Moser, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, fez uma análise sobre ética no jornalismo, em seu artigo “Tudo pela Audiência: O caso da Record e as concessões éticas no Jornalismo”, em que argumenta que a busca por audiência pode comprometer a qualidade da informação.
Por consequência temos a desinformação, presente na internet, que vem se espalhando rapidamente, gerando, mais urgentemente do que nunca, uma necessidade de manter altos padrões éticos. Essa visão é compartilhada por André Isac, locutor, apresentador e chefe de esportes da PUC TV Goiás. Ele conta que a audiência mudou com o tempo. Antes, quando ele trabalhava na rádio e não tinha internet, as pessoas só ficavam sabendo uma notícia do futebol através da TV ou no jornal ou na rádio. “Não tinha outra alternativa”, ele aponta e explica o que acontece na sociedade contemporânea. “Agora, qualquer pessoa que tenha algum tipo de engajamento na internet, e nem precisa ser jornalista, consegue dar informações.” André comenta que a partir disso surgem os desafios desses profissionais da comunicação, como ressalta em sua fala: “Continuar fazendo jornalismo nos veículos tradicionais, mas também usar a internet a nosso favor.”
O papel central na construção de audiência consiste numa estratégia de comunicação. Thaillyne Rodrigues, assessora de imprensa do Conselho Regional de Contabilidade (CRCGO), explica que a definição de estratégias é baseada em uma análise detalhada do público-alvo. “Buscamos desenvolver mensagens claras, de interesse e impactantes que ressoam com esses grupos. Além disso, escolhemos canais de comunicação adequados, como redes sociais, newsletters, mensagens via WhatsApp e eventos presenciais, para garantir que a mensagem chegue efetivamente a todos”, afirma. Para Thaillyne, a produção de releases informativos e bem elaborados, aliados a uma boa interação com a imprensa, são pilares fundamentais para atingir os objetivos de comunicação.
Reforçando a relação de feedbacks do público, Diego Itacaramby, produtor de reportagens da TV Anhanguera, confirma que essa convivência é crucial para moldar as produções futuras. “É importante para analisar com o que o povo está interagindo e montar mais conteúdos relacionados ao que está no gosto da audiência, já que esse é o objetivo, alcançar um público maior”, explica. Essa abordagem de compartilhamento se torna um aspecto importante ao se referir a esse ambiente onde o diálogo com os espectadores se faz tão direto e instantâneo.
O lugar em que a busca por audiência ganha contornos ainda mais complexos é no campo da política. Kamilla Lemes, jornalista e assessora de campanhas eleitorais, discute o equilíbrio entre o apelo popular e a apresentação de propostas substanciais. Ao enfatizar a necessidade de uma comunicação que não apenas atraia a atenção, mas que também eduque o leitor, ela diz: “A autenticidade ajuda a construir confiança.”
Segundo Kamilla, a segmentação do público por demografia e comportamento é essencial para que a mensagem política ressoe com eficácia. “É de extrema importância escutar as dores dos eleitores, pois a preocupação do político cria e fortalece uma conexão e confiança com o eleitor.” Entretanto, na escuta ativa deve-se ter um equilíbrio com a responsabilidade de liderar e a disposição de ideias fundamentadas para os problemas. “Um líder eficaz consegue interpretar o feedback da audiência para enriquecer sua mensagem, mas sem perder de vista a coerência e a profundidade necessárias para a abordagem de questões complexas”, conclui.
Essas dinâmicas revelam um panorama complexo, onde a busca por audiência é simultaneamente uma oportunidade e um desafio. Em um mundo saturado de informações, jornalistas e assessores de imprensa precisam ser criativos e éticos na forma como se comunicam. A construção de relacionamentos autênticos, a segmentação eficaz e a adaptação às novas tecnologias são estratégias cruciais para navegar nessa nova realidade. Ao mesmo tempo, o compromisso com a qualidade da informação e a ética no jornalismo permanece fundamental, garantindo que a comunicação social cumpra seu papel de informar e conectar as pessoas.
Com as rápidas transformações no consumo de notícias e a crescente relevância das plataformas digitais, a comunicação social se encontra em um ponto de inflexão. O futuro dependerá da capacidade de adaptação dos profissionais e da resistência aos desafios que vêm com a busca incessante por audiência. Até porque a verdadeira audiência não é apenas uma métrica numérica, mas uma conexão com o público, capaz de promover um diálogo informado e construtivo.