Por Emanuelle Mattos
Supervisão: prof.ª Gabriella Luccianni
A advogada e docente da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Tatiana Takeda, é uma das mães participante do livro “À Mãe Que Me Tornei”. A obra aborda os desafios e descobertas da maternidade atípica — aquelas cujos filhos possuem alguma deficiência —, e é composta por cartas escritas à mão por 29 mulheres que compartilham suas vivências na maternidade atípica.
A professora Tatiana Takeda relata sua experiência ao escrever a carta para o livro e como a proposta foi acolhedora. “Ela deu liberdade para que cada uma pudesse falar aquilo que quisesse, aquilo que sentia. Quando eu a escrevi, eu estava num momento muito importante da inclusão escolar do Theo, meu filho. Como ele ainda está no fundamental, a inclusão escolar faz parte da nossa vida. Eu quis compartilhar como foi o início dessa inclusão escolar, como foram as negativas iniciais e como nós encaramos isso.”
Em vídeo para o Instagram, Tatiana convida para o lançamento, confira:
- Curso promove integração e conscientização de professores sobre inclusão.
- Maternidade real: histórias de amor, culpa e transformação
À Mãe Que Me Tornei
O livro tem curadoria da advogada, pedagoga, especialista em inclusão e direitos da pessoa com deficiência e mestranda em direito, Letícia Lefevre, que por mais de 4 anos trabalhou para o lançamento da obra. Letícia foi responsável por reunir as cartas com relatos reais, intensos e tocantes de mães atípicas.
“Sou Community Leader (líder da comunidade) na ‘Crianças Especiais’. Lá as mães compartilham muitas histórias, então, 90% das histórias são de mães que estavam na nossa comunidade. Para ter diversidade e inclusão, nós procuramos ter um tipo de cada deficiência – deficiência mental, deficiência intelectual, deficiência sensorial e deficiência física -, também pensamos em contemplar a diversidade humana, porque sabemos que ninguém é igual.”
A obra mostra que, apesar dos desafios, as mães atípicas seguem movidas por um amor inquebrantável, que resiste ao tempo e às adversidades. São relatos que falam de medo, cansaço e incertezas, mas também de alegria, pequenas vitórias e uma força que só quem ama incondicionalmente pode compreender.
“Essa é uma leitura para a prática da inclusão, empatia e sororidade. […]. É para construir um novo pensamento e base inclusiva e principalmente tirar o manto de invisibilidade dessas mães, a batalha é pesada. Quero que as pessoas percebam que essas mães existem, saber o que elas fazem para os filhos. Falar que a mãe atípica é ‘guerreira’, ‘heroína’ é muito over, muito antigo, é mascarar as necessidades de redes de apoio, de políticas públicas de inclusão, de uma boa escola, de uma boa saúde para essas mães. Elas acabam sendo negligenciadas por priorizarem os filhos, tem mãe que não consegue nem tomar banho. Elas precisam de suporte!”, reforça Letícia.
De acordo com estudo do Instituto Baresi, em 2012, no Brasil, aproximadamente 78% dos pais abandonaram as mães de crianças com deficiências e doenças raras, antes dos filhos completarem 5 anos de vida. Atualmente, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) é “a maior rede de defesa e garantia de direitos das pessoas com deficiência intelectual e deficiência múltipla da América Latina” e são responsáveis por diversas melhorias na educação, saúde, inclusão social e empregabilidade.
O projeto do livro não obteve patrocínio e foi custeado pela curadora, pelas mães, que doaram suas cartas, e com o valor arrecadado em uma rifa. “A maioria das coisas que conseguimos, as pessoas doaram”, confirma Letícia.
O livro possui 241 páginas, pelo valor de R$70,00 no dia do lançamento, em um sarau especial no Dia Internacional da Mulher, 8 de março de 2025, às 14h, no Unibes Cultural, em São Paulo.
O evento terá com um momento de leitura, no qual algumas mães compartilharão trechos de suas cartas, intercalados com apresentações musicais de Mundo Rafah. Músico e membro da comunidade Crianças Especiais desde 2018, Rafah tem um trabalho pautado na inclusão, no respeito e no resgate da infância.