quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
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Para além da direita e esquerda: uma teoria econômica do voto

Professor de Relações Internacionais da PUC Goiás desvenda curiosidades sobre a escolha do voto em período eleitoral.

Professor Guilherme Carvalho ministrou minicurso. Foto: Débora Ferreira.

Por Débora Ferreira, Guilherme Ferreira e Núbia Nunes.

Como as escolhas eleitorais podem ser explicadas para além das divisões ideológicas entre direita e esquerda? Essa foi a questão central do minicurso “Para além da direita e da esquerda: uma teoria econômica do voto”, realizado no X Congresso de Ciência, Tecnologia e Inovação da PUC Goiás, no dia 17 de outubro. O evento contou com a presença do professor Guilherme Augusto Batista Carvalho e reuniu estudantes e profissionais interessados em compreender o comportamento eleitoral sob uma perspectiva econômica.

Na atualidade, a polarização política limita os debates públicos em extremos ideológicos, tornando difícil entender os aspectos racionais que influenciam nas decisões dos eleitores. Em meio a esse contexto, o minicurso trouxe uma perspectiva inovadora sobre como os interesses individuais e cálculos racionais influenciam as decisões nas urnas. A proposta do professor Guilherme Carvalho convida à reflexão sobre o voto como uma decisão que pode ser analisada economicamente, para além das tradicionais divisões ideológicas, oferecendo novas lentes para interpretar a política contemporânea.

Preferências eleitorais e migração de votos

Um dos temas discutidos na palestra foi o fenômeno da migração de votos nas fases finais das eleições. Carvalho explicou que, em contextos nos quais o candidato preferido não apresenta boas chances de vitória, eleitores frequentemente transferem seu voto para outra opção mais competitiva, com o objetivo de evitar a vitória de um candidato menos desejado. Segundo ele, essas decisões revelam uma lógica estratégica, em qual a maximização da utilidade do voto se torna mais importante que a fidelidade ideológica.

A ideologia acaba sendo um recorte de valores nas eleições municipais, visto que prevalece a escolha de propostas que busquem solucionar os problemas que afetam a vida cotidiana. O congestionamento de veículos em Goiânia foi um assunto levantado por Guilherme Augusto. “Em média eu perco uma hora ou uma hora e meia no trânsito. Eu poderia estar trabalhando, estudando, dormindo ou fazendo o que eu quisesse. Porém, estou preso em uma fila de um lugar para chegar em outro”.

O docente enfatizou ainda que a racionalidade eleitoral não implica em escolhas perfeitas ou totalmente informadas, mas sim em ações que busquem satisfazer necessidades práticas dentro das condições disponíveis. Um exemplo típico ocorre quando eleitores enfrentam um dilema no segundo turno: ainda que seu candidato preferido já tenha saído da disputa, eles escolhem a opção menos indesejada para impedir a vitória de um adversário pior.

Teoria Econômica da Democracia

Guilherme apresentou também a teoria econômica da democracia, proposta por Anthony Downs em seu livro “Uma Teoria Econômica da Democracia” em 1957. Downs argumenta que os eleitores e políticos agem de maneira racional, buscando maximizar seus próprios interesses. Os eleitores votam de acordo com suas preferências econômicas e o político busca ganhar votos ao atender essas preferências.

“As pessoas não se importam com a política no dia a dia, pois não afeta diretamente a vida delas. Diante dessa falta de interesse, por que a população presta atenção nas eleições?”, provoca o professor. “Ele é ativado no último momento da campanha”, responde.

Segundo Guilherme, a teoria de Anthony Downs precisa de “alguns reparos”, visto que a teoria foi construída nos Estados Unidos em 1957. Esses reparos devem levar em conta o tempo e o local. “A preocupação com a democracia na década de 50 é um valor intrínseco à própria ideia de nacionalidade americana”, comenta o professor.

Palestrante

Guilherme Augusto Batista Carvalho é bacharel em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Goiás e doutorando em Ciência Política pela Universidade de Brasília. É docente nos níveis de graduação e pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica de Goiás, na UNIP e no Centro Universitário UniAraguaia.