quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
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Os professores de hoje

Uma reflexão sobre os problemas educacionais na perspectiva dos professores

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay.

Por Emilly Matos e Guilherme Ferreira

Todos os dias, Márcia Cristina de Jesus, professora há 20 anos, acorda cedo para ir ao colégio, leva todas as atividades já planejadas para passar aos seus alunos. Para ela, ser professora é muito bom, perceber o crescimento e a evolução dos alunos é gratificante, mas tem lá suas dificuldades. “Mas sem romantizar, temos muitos problemas, a falta de apoio do governo, sociedade e o desinteresse dos alunos pela educação, estamos na luta”, afirma a educadora.

Ser professora não é um trabalho fácil. Márcia conta que sempre leva afazeres escolares para casa, como planejamentos de aulas, correções de trabalhos e provas. Quando tem tempo de fazer isso no colégio, a internet não funciona ou não tem material de trabalho. Sua maior dificuldade é atrair a atenção do aluno e competir com a internet, jogos e redes sociais. “Os celulares afetam principalmente a atenção e a concentração dos alunos. A grande maioria não sabe usar de forma comedida ou voltado para o lado pedagógico”, afirma a professora.

Sandro Souza de Oliveira é professor há 14 anos. Para ele, ser educador é ter consciência que sua função é transformada, mas, em sua visão, a educação do nosso país ainda precisa melhorar. Todos os dias o professor leva trabalho para casa e afirma que a jornada é exaustiva. Suas principais dificuldades são os sistemas de avaliações, o desinteresse do aluno e a carga horária.

Sandro explica que há uma política na desvalorização dos professores, como as condições de trabalho. “Muitos jovens não querem ser professores pelo fato de o salário não ser tão atrativo, a exaustiva carga horária e as poucas condições de estruturas”, comenta o professor.

Márcia e Sandro, ambos docentes do Ensino Médio, são unânimes em relação aos prejuízos do uso do celular em sala de aula. Os dois comentaram que os alunos não sabem utilizar o aparelho de forma pedagógica, contribuindo com a desatenção e prejudicando o rendimento escolar. “Na grande maioria das vezes estão jogando ou nas redes sociais. Acredito que o uso do celular em sala de aula está se tornando um caso de saúde pública”, comenta a professora.

Para o professor Fernando da Costa Lima, que leciona há 18 anos no Ensino Médio, os docentes sofrem pressões de todos os lados, principalmente da Secretaria de Educação, que exige resultados imediatos nas notas dos estudantes, e ao ter que lidar com os pais de seus alunos. “Os pais transferem a responsabilidade da educação dos filhos a nós, professores”, afirma Fernando.

Além do problema com os celulares em sala de aula, os professores veem a falta de compromisso familiar com a escola e as mudanças constantes no processo educacional como desafios. “Mudanças no currículo que não contemplam todos os alunos. Essas mudanças causam prejuízos aos alunos principalmente os de escolas públicas”, reflete Márcia.

A classe dos professores enfrenta outros problemas em sua profissão, como a desvalorização e as acusações de doutrinação ideológica. Segundo o Censo da Educação Básica e Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2020, a remuneração média padronizada para 44 horas semanais, no Brasil, é de R$ 5.104,73. Em Goiás, essa remuneração é de R$ 5.234,28, mas as remunerações mínimas variam entre R$ 2.289,12 e R$ 2.652,69, respectivamente.

Além da baixa remuneração, os professores têm sido contratados temporariamente, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2024, que reuniu diversas fontes. Segundo o documento, de 2013 a 2023, em Goiás, houve um salto de docentes em contratos temporários de 27,8% para 47,6%. De acordo com professores entrevistados que não quiseram se identificar, o professor que não é efetivo é perseguido, indiretamente, para ter bons resultados. Comentários assim começaram a aparecer nos grupos dos professores após a secretária de educação de Goiás demitir uma professora por ter feito uma pergunta durante uma live.

“O governo dá dinheiro para os alunos, que talvez nem tenham com o que gastar, e não dão um salário digno para os professores”, afirmou uma professora aposentada em referência ao Bolsa Estudo, indignada após a Assembleia Legislativa de Goiás (ALEGO) aprovar a alteração do Plano de Carreira dos Profissionais da Educação em outubro deste ano. Passou a ter vigor no dia 11 de novembro após a publicação no Diário Oficial do Estado.

De acordo com o Censo Escolar de 2023, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em Goiás, a média de alunos por turma são de 27,8 alunos nas escolas privadas, e 28,0 alunos nas escolas públicas, levando em conta apenas o Ensino Médio. Já na capital, Goiânia, na administração pública em todas as esferas são de 31,5 alunos por turma, na privada, 34,6 alunos.