Por: Gustavo Alves (Monitor do Observatório de Mídia da PUC Goiás, sob supervisão do Prof. Rogério Borges / Imagem: Acervo Pessoal)
Um olhar de análise, estudo e cobrança para com aqueles que respondem – ou deveriam responder – por nossas políticas ambientais. É este predicado que a professora e pesquisadora Ilza Maria Tourinho Girardi defende que o jornalismo ambiental tenha em suas coberturas. Ela irá participar do 11° Seminário do Observatório de Mídia da PUC Goiás nesta terça-feira, 15 de outubro, no canal do YouTube da universidade, integrando a programação do Congresso de Ciência e Tecnologia da instituição. O tema do debate será Jornalismo Ambiental: Desafios na Cobertura de Emergências Climáticas.
Formada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ilza Maria Tourinho Girardi possui mestrado em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e estágio doutoral na Universidade Autônoma de Barcelona.
Professora titular aposentada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atualmente professora convidada no Programa de Pós-Graduação da UFRGS. Criou a disciplina Jornalismo Ambiental na graduação e o Seminário de Jornalismo e Meio Ambiente na pós-graduação, onde orienta no mestrado e doutorado.
Além disso, ela é líder do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental CNPq/UFRGS e integra o Observatório do Jornalismo Ambiental, o qual coordenou até julho de 2024. Coordena o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul, que foi criado em 1990. Ela conversou com a equipe da Agência Impressões.
Agência Impressões: Quais são os principais desafios enfrentados pelos jornalistas na cobertura de emergências climáticas?
Ilza Maria: Os desafios são muitos. O jornalista precisa ter conhecimento sobre o tema ou ter fontes às quais pode recorrer para compreender o que está acontecendo, quais as causas, evolução da ocorrência. Precisa ter à sua disposição equipamentos de segurança e tomar os cuidados necessários para não se colocar em risco. Com as redações enxutas, os jornalistas trabalharam demais e ficaram doentes também. No caso do recente desastre climático no Rio Grande do Sul, as empresas contrataram psicólogos para dar assessoria psicológica aos repórteres que ficaram muito impactados com cenas tristes que precisaram presenciar para realizar seu trabalho. Com a dificuldade de transporte das empresas jornalísticas (precariedade no trabalho da profissão), alguns jornalistas precisaram fazer longos percursos a pé. Jornalistas que também tiveram suas casas tomadas pelas águas continuaram trabalhando para cumprir seu dever de informar a população.
Agência Impressões: Como a desinformação impacta a cobertura de eventos climáticos extremos?
Ilza Maria: No caso do desastre climático do Rio Grande do Sul, foi divulgada muita desinformação. Isso dificultou o trabalho, pois os jornalistas tinham que dedicar muito tempo para saber a verdade e divulgar a informação correta. No meio do caos nem sempre a Defesa Civil ou as assessorias conseguiam dar conta de tudo rapidamente e a imprensa precisava ter o cuidado de não divulgar a desinformação. Esse processo retardava a divulgação das informação de forma rápida, especialmente no caso do radiojornalismo, que ficou o tempo todo no ar durante muitos dias.
Agência Impressões: Como o uso das tecnologias e redes sociais têm transformado a forma como o jornalismo ambiental é feito?
Ilza Maria: As tecnologias e redes sociais podem contribuir para ampliar o trabalho do jornalismo. Por exemplo, o rádio com imagem via internet. Também possibilita o contato com fontes que estão muito distantes e até impedidas de locomoção num caso de estarem numa ilha cuja ponte foi destruída, ou numa cidade onde as estradas foram totalmente danificadas. Tais situações ocorreram no Rio Grande do Sul.
Agência Impressões: De que maneira o jornalismo pode ajudar a conscientizar o público sobre as questões climáticas? E quais abordagens podem ser adotadas para apresentar essas informações?
Ilza Maria: O jornalismo tem uma função educativa importante. Por isso a informação correta é fundamental. As informações devem ser contextualizadas e apresentar dados provenientes da ciência climática, que faz alertas há muito anos, em especial desde que foi criado o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Deve mostrar a influência das queimadas, queima de combustíveis fósseis, desmatamento e supressão de outros tipos de vegetação nativa para aumentar o efeito estufa, etc. Deve alertar a população sobre a necessidade da arborização das cidades para o equilíbrio térmico. Deve cobrar dos governos a não flexibilização da legislação ambiental e ,ao contrário, exigir legislação mais dura contra desmatadores. Deve cobrar do governo a não abertura de mais postos de petróleo, em especial o da voz do rio Amazonas, entre outras medidas. O jornalismo ambiental deve cobrar do governo a inclusão da educação ambiental em todos os níveis de ensino e mostrar que temos que aprender a viver com natureza e não contra ela, seguindo o exemplo dos indígenas, que tem muito a nos ensinar. Aliás, a defesa do reconhecimento das terras indígenas deve fazer parte desse processo de conscientização. A informação divulgada pelo jornalismo auxilia, através dos processos comunicacionais que desencadeia, a transformação do pensamento das pessoas para que não vejam a natureza como um problema ao desenvolvimento, mas que se percebam como natureza.