quarta-feira, 23 de outubro de 2024
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O aprendizado na estrada

Por: Alleone Souza Pereira Silva

Nesta crônica, a estudante Alleone Souza reflete sobre os ensinamentos do pai sobre amor e responsabilidade.

Bater o carro do meu pai foi uma das experiências mais intensas e difíceis da minha vida. Tudo começou na manhã de quinta-feira, daquelas que parecem convidar a gente para ficar mais um pouco na cama e tirar um cochilo. Mal sabia eu que a maior aventura daquele dia seria enfrentar o olhar preocupado do meu pai.

Há um ano eu havia tirado a habilitação, minha CNH provisória estava vencida. E eu, cheia de confiança e um pouco de arrogância juvenil. Meu pai, sempre confiante, já entregou o carro na minha mão. Eu usava o veículo todo dia para ir à faculdade. “Toma cuidado, Leone”, ele disse, com aquele tom que misturava preocupação e orgulho.

Saí com o carro e, nos primeiros minutos, estava dirigindo como uma cidadã exemplar. No entanto, fui passar por uma rotatória e não prestei atenção nos outros carros. Acelerei mais do que devia. Um motorista distraído não deu seta, porém, a preferência era dele. O som da colisão foi alto! A lateral do carro dele ficou amassada e a frente do meu carro também.  Meu coração parecia querer sair pela boca. A única coisa que eu consegui fazer no momento foi chorar.

O carro estava uma lástima, e eu, sem saber o que fazer, liguei para o meu pai. Esperava uma reação explosiva, talvez até gritos e sermões intermináveis. Mas, para minha surpresa, ele chegou ao local do acidente calmo como eu jamais poderia imaginar. Seus olhos, embora sérios, refletiam uma compreensão que eu não esperava.

Ele olhou o estrago, depois olhou para mim e disse apenas: “Você está bem?” Aquelas palavras ecoaram na minha mente. Eu estava esperando uma bronca, mas o que recebi foi um abraço. Aquele abraço significava muito mais do que qualquer reprimenda. Era o abraço de alguém que entendia que, às vezes, aprendemos as lições da maneira mais difícil.

Aquele acidente me ensinou muito sobre responsabilidade, não só ao volante, mas, na vida. Aprendi que confiança é algo precioso e que um simples momento de descuido pode ter consequências sérias. Aprendi, principalmente, que o amor e a compreensão de um pai podem ser mais fortes e mais importantes do que qualquer carro ou bem material.

O carro ainda não foi consertado, o medo de dirigir ainda está aqui, mas a lição daquele dia ficou gravada em mim. E, sempre que me sento ao volante, lembro do olhar do meu pai e das palavras dele. Dirigir é mais do que guiar um carro; é ter a vida de outras pessoas nas mãos. E isso, meu pai me ensinou, é uma responsabilidade que nunca deve ser tomada de ânimo leve.