Por Alleone Souza, Andressa Silva, Júlia Leiva, Júlia Macedo, Maria Clara Girelli, Maria Clara Cunha e Nathalia Rocha (alunas da disciplina Teorias do Jornalismo, sob supervisão do professor Rogério Borges)
O jornalismo está em constante transformação. Com o avanço das novas tecnologias, ferramentas como a inteligência artificial (IA) estão mudando a forma como as notícias são produzidas e consumidas. O jornalista provou-se repetidamente, ao longo da história, um camaleão, adequando-se ao espaço à sua volta, a fim de sobreviver. Se o assunto é eleição, guerra, tratado de paz, comemoração ou retomada histórica, por exemplo, o jornalista vai se informar, se aprofundar, consultar inúmeras fontes e buscar repassar a informação à sociedade da melhor maneira possível.
Tal habilidade de adaptação com certeza foi muito útil com o desenvolvimento das novas tecnologias que sempre alteram aspectos dos meios de comunicação. Repórteres, editores, apresentadores, redatores, todos do campo do Jornalismo se adequaram ao uso das “melhorias” que lhes foram apresentadas, desde máquinas de escrever, câmeras pesadas e muitos rolos de fitas de gravação, até um leve e compacto celular capaz de substituir os três equipamentos: microfone, câmera e papel.
A professora do curso de Jornalismo da PUC Goiás, Denize Daudt Bandeira, afirma que esse processo histórico constante de mudanças tecnológicas apresenta vários pontos positivos, como a democratização do espaço para o jornalista que no rádio, por exemplo, precisava ter uma voz específica para que fosse captada corretamente pelo equipamento. Tal exigência hoje já caiu por terra, criando oportunidades para outras pessoas com diferentes timbres.
Segundo a professora, a relação entre a tecnologia e os veículos de comunicação é simbiótica, algo que há anos vem sendo afirmado pela professora Nélia Del Bianco, uma referência nos estudos de rádio. “É uma via de mão dupla. A tecnologia muda o rádio, transforma a linguagem, a produção e a forma que a informação alcança as pessoas”, explica Denize. “O rádio é o meio que mais se adaptou às novas tecnologias, prolongando a sua existência, como sempre fez: AM para FM, rádio na internet, rádio ganhando mobilidade e praticidade”, continua.
Para ela, as plataformas digitais e as redes sociais não são concorrentes dos meios tradicionais. “Acredito que elas complementam o trabalho. O que tínhamos mais dificuldades para divulgar, hoje ganha uma nova característica. Lógico que há um romantismo de uma época em que tinha que ir até a rádio para ver de quem é a voz que está passando. Hoje é mais fácil para uma pessoa ver a outra sem se deslocar, mas acho que as plataformas digitais colaboram sim, acho que agregam e que podemos tirar proveito dessas plataformas”, comenta a professora.
As mídias digitais chegaram a fim de somar em termos de conteúdos produzidos. A professora de Jornalismo reforça a possibilidade de produtos radiofônicos em novos formatos, como podcasts, ou até o aproveitamento de materiais produzidos para o ao vivo que podem acabar sendo adaptados para os meios digitais a fim de aumentar o leque de consumidores das emissoras de rádio, gerando também uma aproximação entre ouvinte e marca.
A proximidade entre locutor e ouvinte também mudou, como mencionado pela professora Denize. Há alguns anos, era necessário ir até o estúdio para conhecer a pessoa por trás da voz no rádio, enquanto hoje basta pesquisar no Instagram ou acessar o site da emissora para ver o rosto do locutor. É claro que ainda há uma grande curiosidade e admiração pela magia do rádio e muitos ouvintes ainda buscam ir aos estúdios para conhecer o espaço e a equipe de sua emissora favorita.
Entretanto, nem todas as mudanças oriundas dos avanços tecnológicos são tão sutis. De acordo com Denize, o armazenamento de dados foi uma mudança muito radical quando comparada com as gravações nos rolos de fita e com o uso de disquetes. “Essa possibilidade de armazenamento é incrível, não só no rádio, mas também em outros modelos, como no jornal impresso. Hoje você consegue acessar quase todas as edições do jornal em formato digital”, comenta a educadora. A mudança teria apresentado uma possibilidade de armazenamento de arquivos significativa.
Do ponto de vista operacional diário, a edição e a produção de diversos conteúdos ganharam mais praticidade. Editar nos dias atuais é rápido e fácil, com inúmeras ferramentas que colaboram para a melhoria de áudios e vídeos. É quase impossível manter algo em má qualidade. A criação de softwares de edição foi o que mais facilitou e melhorou o trabalho do produtor, eliminando a necessidade de uma ilha de edição gigantesca com quantidades absurdas de botões. O trabalho do locutor ficou mais tranquilo por meio da digitalização dos arquivos de músicas, tornando-se um simples “play” ao invés de categorizar os discos de vinil, lembrando o lado do disco, número da faixa e os pontos em que ela começa e acaba.
Apesar de todas as mudanças positivas e práticas no campo da tecnologia, há um avanço que vem preocupando muitas pessoas: a Inteligência Artificial (IA). Segundo a professora, a IA impacta o jornalismo como um todo. “Hoje se discute muito: ‘ah, vou usar a inteligência artificial para gravar boletim?’ ou ‘vou usar a IA para produzir notícia?’. Isso, na verdade, já vem sendo feito, como o cruzamento de dados, por exemplo, no jornalismo de dados”, aponta a educadora. “A questão da sensibilidade humana, da empatia, das questões éticas e a escolha de pauta ainda pesam muito no jornalismo e servem como prova de que a inteligência artificial não substituiria o trabalho jornalístico”, finaliza Denize.
O Jornalismo e a IA: Uma Nova Era
O avanço da inteligência artificial (IA) tem transformado várias indústrias, e o jornalismo não ficou de fora dessa revolução. As novas ferramentas baseadas em IA estão mudando a forma como jornalistas coletam, analisam e produzem conteúdo, além de desafiar as práticas tradicionais da profissão.
A inteligência artificial passou a ser uma ferramenta essencial para aumentar a produtividade, sem comprometer a qualidade do conteúdo. “Com o aumento da demanda e a necessidade de entregar matérias de forma mais rápida, a IA me trouxe uma solução eficiente para lidar com o volume de trabalho,” relata a assessora da presidência da OAB-GO e também graduada em jornalismo, Cricie Sampaio.
Ao ser questionada sobre como a IA complementa o trabalho do jornalista, ela destaca o papel da tecnologia em agilizar tarefas operacionais, permitindo que ela se concentre em aspectos mais estratégicos, como a investigação e o desenvolvimento da narrativa. “A IA ajuda a organizar e analisar dados rapidamente, além de sugerir pautas ou ângulos que talvez eu não tivesse considerado. Isso agiliza o processo criativo e de apuração”, comenta a assessora.
Um dos maiores benefícios que ela vê na adoção da IA é a redução do tempo de produção das matérias. Com a coleta de dados e a organização de informações feitas de forma automática, a velocidade de entrega ao público é muito maior. Isso é particularmente útil em coberturas urgentes ou matérias que exigem análise rápida de dados. No entanto, o uso da IA no jornalismo também traz desafios, especialmente no campo ético. Cricie alerta para a possibilidade de desinformação. “A IA pode, sem querer, perpetuar erros ou distorcer fatos se não for usada de forma responsável. É preciso haver transparência no uso dessas ferramentas e, principalmente, um controle humano sobre o que é produzido”, comenta a jornalista.
Para evitar que a IA gere ou perpetue desinformação, ela explica que sempre revê as informações geradas pela tecnologia. A responsabilidade pela veracidade do conteúdo continua sendo do jornalista, e a IA é vista apenas como uma ferramenta auxiliar. Segundo a assessora, a IA pode trazer insights valiosos, mas é crucial revisar e verificar as informações antes de publicá-las. “Já fui surpreendida por alguns resultados inusitados, por isso a checagem rigorosa nunca pode ser deixada de lado”, afirma Cricie.
Além de agilizar a produção de notícias, a IA também tem sido uma aliada na personalização e segmentação do conteúdo. “A IA permite que os conteúdos sejam moldados de acordo com o comportamento e as preferências dos leitores. Isso ajuda a segmentar melhor o público e a entregar informações relevantes para cada grupo,” observa a assessora.
De acordo com Cricie, o futuro do jornalismo será uma colaboração entre humanos e máquinas. A IA vai acelerar os processos, mas o papel do jornalista, como investigador e narrador, será sempre indispensável. “Acredito que todo jornalista precisará dominar ferramentas tecnológicas para se manter relevante e garantir uma produção ágil e eficiente. A tecnologia está aí para ser nossa aliada, mas sempre mantendo o compromisso com a verdade”, finaliza Cricie.
A pesquisa “A Inteligência Artificial para Jornalistas Brasileiros” revela que 56% dos jornalistas usam IA em suas atividades jornalísticas. Outros 66,9% consideram positivamente a capacitação para uso de IA. A pesquisa tem assinatura da ESPM-SP e do boletim Jornalistas&Cia.
A IA no Jornalismo: Uma Revolução em Construção
O uso da inteligência artificial (IA) no jornalismo ainda está em uma fase incipiente, mas já começa a transformar radicalmente o modo como as notícias são produzidas e distribuídas. Comparado à época em que as estradas eram de terra batida, o caminho do uso da IA no jornalismo está apenas começando a ser pavimentado. Hoje, observamos a criação de textos mais refinados, muitos deles combinando a criatividade humana com a eficiência das inteligências artificiais. Para muitos, não há mais retorno desse caminho.
No cenário atual, vemos textos sendo gerados de forma automática, muitas vezes sem que o autor do comando tenha sequer lido o resultado final. Mas há também aqueles que utilizam a IA como uma ferramenta de suporte, aprimorando suas produções. “Aqueles que já estão trilhando essa estrada asfaltada estão, sem dúvida, à frente dos que ainda hesitam em utilizar essas ferramentas,” observa o jornalista, assessor parlamentar e analista de marketing político Luiz Claudio Cavalcante, que tem integrado a IA em seu trabalho.
O uso eficiente das IAs depende diretamente da forma como elas são aplicadas. Elas operam por meio de algoritmos complexos, alimentados por uma vasta gama de fontes, sendo a internet o maior banco de dados utilizado. No campo da comunicação, a integração entre IA e a criatividade humana tem se mostrado uma combinação irreversível. “Se bem integradas, as IAs são uma poderosa aliada, e sua utilização vai se consolidar no futuro, mesmo para aqueles que hoje criticam seu uso,” afirma Luiz Claudio.
Para obter resultados de alta qualidade, é essencial dominar não apenas a estrutura textual, mas também entender o público-alvo e ter habilidades de raciocínio lógico ao elaborar comandos. “Dependendo da extensão do conteúdo, uma IA pode transformar uma matéria extensa em pequenos artigos informativos, ou até adaptar o tom de ironia e sarcasmo a um texto formal que pode ser lido em plenário do STF. Tudo depende da habilidade do operador humano,” explica o jornalista.
Ele compara o uso da IA ao piloto automático de um avião: “Assim como um avião pode voar e até pousar sozinho, há consenso de que a decolagem e o pouso devem ser feitos por pilotos humanos. Da mesma forma, a essência humana no jornalismo é insubstituível. Boas instruções aliadas à criatividade geram conteúdos de altíssima qualidade”, comenta Luiz Claudio.
Como em qualquer tecnologia poderosa, o uso das IAs deve respeitar limites éticos e morais. “Assim como existem leis para governar a sociedade, as IAs devem ser guiadas por restrições impostas por seus criadores,” afirma o jornalista. No entanto, ele alerta que as IAs, por sua natureza, não possuem senso moral próprio e podem ser usadas de maneira antiética por pessoas mal intencionadas.
Um exemplo recente, segundo ele, envolveu a manipulação de imagens de estudantes de um colégio no Rio de Janeiro por meio de IA, violando sua privacidade. Esse caso levanta preocupações sobre o uso indevido da tecnologia, destacando que, nas mãos erradas, as IAs podem ser perigosas. “O limite ético não será imposto pela IA, mas sim por quem a opera. O fator humano será sempre o guardião da ética,” ressalta o jornalista.
O Jornalismo Investigativo e a IA
Um dos campos do jornalismo que mais pode se beneficiar do uso da IA é o de cunho investigativo. A capacidade de lidar com grandes volumes de dados e cruzar informações complexas em uma investigação policial, por exemplo, é uma das principais vantagens da tecnologia. “Imagina um jornalista alimentando a IA com informações de um caso complexo, pedindo orientação sobre o cruzamento de dados para chegar a um suspeito,” explica Luiz Claudio.
A IA pode auxiliar na criação de uma teia de conexões entre suspeitos, horários e locais de crime, facilitando o trabalho do jornalista. “Um exemplo simples: se o suspeito A percorreu 50 km em 20 minutos, desviando da rota presumida, e outro suspeito B, um piloto de corridas, mora nessa área, a IA pode sugerir que o B tenha auxiliado o A a realizar a fuga,” explica Luiz Claudio. Essa precisão pode tornar as investigações mais rápidas e assertivas.
O futuro do Jornalismo e a IA
No entanto, apesar de todas as vantagens, Luiz Claudio acredita que a IA nunca substituirá completamente o ser humano. “Um jornalista preguiçoso pode deixar que a IA faça tudo por ele, mas o risco está na qualidade da informação. A pessoa que recebe esse conteúdo tem ferramentas para verificar sua veracidade? O grande risco não está só no que é produzido, mas no fato de que muitos consumidores de notícias não sabem como buscar fontes confiáveis,” diz.
Quanto ao uso das IAs nas redações, o jornalista ressalta que ainda há pouca regulamentação clara. “A Globo, por exemplo, já atualizou seus princípios editoriais para o uso de IA, mas a criação humana ainda é o principal fator. A IA deve ser usada como assistente, sempre sob supervisão humana e respeitando direitos autorais,” afirma o jornalista.
Ele conclui que a IA já é capaz de identificar mentiras, ou “fake news,” como prefere não chamar. “Com bons comandos, a IA pode ajudar a verificar informações, mas o fator humano ainda é essencial”, comenta Luiz.
O papel do jornalista na era da IA
Finalmente, o jornalista ressalta que para prosperar nessa nova era, o profissional precisa estar bem informado, aberto a novas ideias e disposto a aprender continuamente. “Nós, jornalistas, somos receptores e transmissores de informações. Quem não se atualiza é como uma enciclopédia velha: cheia de conteúdo, mas desatualizada”, finaliza Luiz.
Nesse cenário, o uso da IA pode ser uma ferramenta valiosa, desde que os jornalistas mantenham princípios éticos sólidos. As novas tecnologias, especialmente a IA, estão moldando o jornalismo de formas nunca vistas antes.
No entanto, como demonstram as diferentes perspectivas dos entrevistados, o desafio está em equilibrar o uso dessas ferramentas com a preservação da essência do Jornalismo: a busca pela verdade e a conexão humana.
Enquanto o rádio continua a evoluir para plataformas digitais, a IA surge como uma aliada para aprimorar e agilizar processos, sem deixar de lado o olhar crítico dos jornalistas. O futuro do Jornalismo parece promissor, mas, como qualquer inovação, depende de como todas essas novidades serão utilizadas.