quarta-feira, 23 de outubro de 2024
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Indígenas de Goiás pedem atenção à saúde e a demarcação dos territórios

Em audiência pública realizada na Alego, representantes denunciaram o descaso público frente aos desafios que as comunidades estão enfrentando.

Audiência pública Dia dos Povos Indígenas - Foto: Carlos Costa/Alego

Por Alexandre Cordeiro, Julia Macedo e Rízia David

Os povos indígenas de Goiás denunciaram o descaso das autoridades públicas com a situação da saúde, a falta de demarcação dos territórios, a desvalorização dos professores e reforçaram a necessidade urgente da reestruturação da Funai e da criação de políticas públicas específicas para os indígenas e as comunidades tradicionais. Tudo isso foi discutido pelas comunidades indígenas que fizeram parte de uma audiência pública, proposta pelo deputado Mauro Rubem (PT), na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), durante a Semana dos Povos Indígenas 2023, organizada pelo Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), vinculado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da PUC Goiás.

O vice-cacique do Povo Tapuia do Carretão, Welligton Vieira Brandão Tapuia, presente na mesa, junto com outros representantes indígenas, ressaltou o descaso que as comunidades vêm sofrendo na saúde e na ausência de verbas e políticas para a sobrevivência do seu povo.  Ele destacou a necessidade de assistência à saúde nas comunidades indígenas, que não possuem uma Unidade Básica de Saúde (UBS), faltam verbas para exames, tratamentos e medicamentos.

“É preciso uma reestruturação da saúde indígena, não há verbas para exames e tratamentos e nas farmácias indígenas só tem chegado medicamentos vencidos”, expôs o vice-cacique dos Tapuias.

Ele destacou ainda que a falta da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) na audiência é uma prova do descaso que a comunidade indígena vem sofrendo.

Deputado Estadual Mauro Rubem e o vice-cacique da comunidade Tapuia, Welligton Vieira Brandão Tapuia. Foto: Carlos Costa – ALEGO

Com predominância de personalidades femininas, a audiência com o tema Povos Originários: alteridade, violências e protagonismo, teve a presença da doutoranda e professora pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Eunice Pirkodi Caetano Moraes Tapuia. Ela enfatizou que, até aquele dia, o Estado de Goiás não havia promovido uma audiência semelhante.

“Goiás tem trezentos anos de existência, e é a primeira vez que promovem uma audiência como esta”, frisou Eunice.

Eunice Pirkodi Caetano Moraes, indígena Tapuia do Carretão – Foto: Carlos Costa/Alego

A audiência contou com a pesquisadora Evelin Tupinambá, que ressaltou a importância do cumprimento das legislações indigenistas que priorizem a população e possibilitem que as mães indígenas estudem e trabalhem. Evelin afirmou que tentou matricular a filha de colo na creche, mas não encontrou vaga. E teve que mover um processo no Conselho Tutelar, e desde o início do ano letivo de 2023, a vaga ainda não foi liberada e ela é obrigada a levar a filha no colo para o trabalho. 

Questionado sobre a importância de promover uma audiência como esta durante a Semana dos Povos Indígenas, organizada pelo Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), vinculado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PROPE) da PUC Goiás, o deputado Mauro Rubem (PT) pontuou a urgência do assunto, ressaltando a importância de ouvir e valorizar as vozes dos povos originários. Ele se declarou um crítico à maneira que os territórios indígenas vêm sendo ocupados em Goiás e que o esse modelo praticado levou ao apagamento desses povos. 

“Ele (o modelo) demonstra como e quantas comunidades indígenas foram desfeitas”, explicou Mauro Ruben.

O deputado frisou ainda a necessidade de manter as culturas indígenas que atuam de forma a preservar as florestas. Em razão do desmatamento, o Cerrado perdeu o equivalente a 984,79 quilômetros quadrados de sua área no último ano. Para Mauro Rubem, a crise climática se relaciona na forma como os povos originários estão sendo expulsos de sua terra. E a importância dos povos indígenas e das comunidades tradicionais na preservação e conservação do Cerrado e da floresta no país.

A pró-reitora de pós-graduação e pesquisa (Prope) da PUC Goiás, Priscila Valverde, destacou que a Universidade vem há mais de 50 anos realizando eventos para a discussão das questões e desafios enfrentados pela população indígena em Goiás  e no Brasil, como forma de contribuir com a reflexão e futuras formulações de políticas aos povos originários. 

“Tem 52 anos que nós realizamos este evento. No início, dentro daquele contexto histórico, chamávamos de Dia do Índio. E depois, o evento foi evoluindo, alcançando parceiros, e virou a Semana dos Povos Indígenas. Nós tentamos levar essa discussão para todos os âmbitos da sociedade”, cita a pró-reitora. “Hoje eu quero falar pouco, eu quero mais ouvi-los”, concluiu Valverde.

Pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Priscila Valverde – Foto: Carlos Costa/Alego

A professora Valdirene Yny Karajá fez um apelo público para que os povos indígenas sejam salvos. Ela ponderou que a comunidade Yny não é grande, mas a lista de demandas é enorme.

“Nossas demandas, nossos anseios, nossas dificuldades. Somos poucos, um grupo pequeno. Fica aqui o pedido de socorro aos nossos povos: demarcação e saúde”, frisou Yny.


EQUIPE DE COBERTURA JORNALÍSTICA:
Editora Geral: Gabriella Serrano
Editor de Redes Sociais: Diego Augusto
Editora do texto: Rízia David
Repórteres: Alexandre Cordeiro, Julia Macedo e Rízia David
Imagens: Carlos Costa – fotógrafo da Alego
Supervisão Geral: das professoras Noêmia Félix da Silva (Jornalismo Científico e Ambiental) e Carolina Zafino (Ciberjornalismo).