Por: Emilly Souza (Monitora do Observatório de Mídia da PUC Goiás, sob supervisão do Prof. Rogério Borges / Imagem: Acervo pessoal)
Cofundadora e editora executiva da Agência Amazônia Real, que faz ampla cobertura de temas ambientais e sociais na região amazônica, a jornalista Kátia Brasil será uma das participantes do 11° Seminário do Observatório de Mídia da PUC Goiás, cujo tema é Jornalismo Ambiental: Desafios na Cobertura de Emergências Climáticas. O evento será realizado, de forma virtual, no canal da PUC Goiás no YouTube, na terça-feira, dia 15 de outubro, às 9h, dentro da programação do Congresso de Ciência e Tecnologia da PUC Goiás. O encontro também terá a participação da professora Ilza Girardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Jornalista formada pela Faculdade Hélio Alonso (FACHA) no Rio de Janeiro, Kátia Brasil tem atuação nas áreas de política, economia, direitos humanos, meio ambiente, povos tradicionais, direitos das mulheres, crianças e adolescentes.
A jornalista tem mais de 30 anos de experiência na Amazônia e passou pelos veículos: TV Educativa e Cultural, Jornal a Gazeta de Roraima, O Globo, Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. Cofundadora e editora executiva da Agência Amazônia Real, com sede em Manaus (AM) que se trata de um jornalismo independente e investigativo com visibilidade às populações e da região amazônica.
Em 2021, a agência recebeu o prêmio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Nesta conversa com a Agência Impressões, Kátia explicou como funciona o trabalho da Agência Amazônia Real e quais são as principais pautas que devem ser debatidas com urgência na cobertura ambiental.
Agência Impressões: Qual o maior desafio enfrentado por jornalistas e suas equipes na cobertura de crises climáticas?
Kátia Brasil: Na verdade, é um combo de desafios que o jornalista enfrenta para cobrir a crise climática. Não só no Brasil, mas no mundo inteiro, porque são eventos que acontecem e que o jornalista arrisca a sua própria vida. No caso da Amazônia, existem as secas e enchentes. São fenômenos naturais, sempre ocorreram e vão continuar ocorrendo, mas nos últimos 20 anos, essas secas e enchentes têm sido recorrentes e extremas. São impactados por fenômenos climáticos como El Ninõ e La Niña, o aquecimento das águas do Oceano Atlântico e do Pacífico. Os cientistas já comprovaram que existem fenômenos que têm relação com os desmatamentos e as queimadas, porque a floresta emite gases. Desde o ano de 2018, a Amazônia Real desenvolve um plano de segurança. Utilizamos seguros de vida, seguros de acidentes, para que esse jornalista consiga voltar seguro dessas regiões. Contratamos aviões e quando temos recurso contratamos barcos também para que voltem em segurança. Outro desafio grande é justamente o financiamento dessas reportagens, porque são muito caras, além dos salários desses profissionais, aluguel dos barcos, combustível e aeronave.
Agência Impressões: Qual a importância do jornalismo ambiental para a conscientização da sociedade?
Kátia Brasil: No Rio de Janeiro, em 1992, se formou um grupo de jornalistas com a temática ambiental para fomentar esse jornalismo tão importante para nossa sociedade, porque o meio ambiente está ao nosso redor. Se a gente não cuida do meio ambiente as respostas vão ser essas que nós estamos vendo agora com mais gravidade, que são as crises climáticas. A oitava edição do Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (CBJA) aconteceu no mês passado (setembro de 2024), em Fortaleza, é um encontro muito importante porque ele não só difunde jornalismo ambiental nas universidades e faculdades, mas também apoia e incentiva os jovens estudantes para esse tipo de jornalismo. É um jornalismo que conscientiza a sociedade de modo geral. Esses temas, aos poucos, foram sumindo das redações, não só por questões financeiras, mas também por falta de interesse. O jornalismo ambiental está provando que tem audiência, é importante para a sociedade e precisa estar, inclusive dentro das universidades. E nas nossas ações, evitando desperdiçar água, jogar plástico no mar. O mar hoje é um dos locais mais poluídos do mundo. Precisamos conscientizar, de fato. Se não tratarmos o meio ambiente como deve ser tratado, nós vamos deixar de existir.
Agência Impressões: Como as redes sociais podem auxiliar na disseminação de informações sobre os problemas ambientais? E como o jornalista pode usar esses veículos a favor do bem de todos?
Kátia Brasil: Amazônia Real, desde a sua fundação, no ano de 2013, já nasceu no meio digital, nós somos um veículo independente e investigativo, sem fins lucrativos e utilizamos as redes sociais para divulgar nossos conteúdos e também democratizar a informação, porque a maior parte dos nossos entrevistados são povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e defensores de mulheres. Nós temos editorias de meio ambiente, povos indígenas, conflitos agrários, política, economia e cultura. Os entrevistados precisam ler as matérias efetivamente, então essas reportagens chegam nas aldeias através das redes sociais, principalmente pelo WhatsApp, que os indígenas utilizam muito para se comunica. Não poderíamos fechar o conteúdo, colocar uma assinatura e impedir que esses leitores e os entrevistados lessem as reportagens. Então democratizamos a informação através das redes sociais. Em relação às matérias, temos hoje o Instagram como a nossa maior rede. Temos também nossos canais de divulgação no WhatsApp, utilizávamos o X, temos canal no YouTube e TikTok e o Facebook foi uma das nossas primeiras redes e é mantida até hoje.
Agência Impressões: Qual a importância das políticas públicas para a preservação e proteção do meio ambiente?
Kátia Brasil: As políticas públicas são fundamentais para garantirmos que o nosso meio ambiente não seja destruído como está sendo agora. Hoje a floresta amazônica está numa destruição gravíssima, ninguém mais vai falar das queimadas e fumaças, mas os fazendeiros, grileiros e madeireiros vão continuar destruindo a floresta, derrubando e tocando fogo. Daqui a alguns meses vamos ouvir de novo que aumentou o desmatamento e isso vem crescendo desde o ano de 1998. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São Paulo, criaram o monitoramento do desmatamento. As queimadas são monitorados via satélite. Os dados mostram como está acelerada a destruição, principalmente nos últimos 4 anos. Está gravíssima. É preciso que cobremos os governos para termos o desmatamento zero, o fim das queimadas, um monitoramento das queimadas. Este ano está provando que a fumaça das queimadas poluiu diversas cidades ao ponto de levar a contaminação e prejudicar a saúde das pessoas. Nós temos uma lei sobre crime ambiental que é da década de 1990, uma das melhores leis do mundo de combate ao crime ambiental. O governo precisa colocar as leis em prática. Não é só punir com multa, mas sim punir com penalidades mais graves. No governo autoritário de Jair Bolsonaro, houve o desmonte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Isso não pode acontecer. Os indígenas hoje também enfrentam ameaças seríssimas. Uma das ameaças mais graves é o marco temporal.