Por: Ana Luiza Fernandes e João Pedro Jardim
Supervisão: Professora Gabriella Luccianni
Goiás sempre foi mais discreto no cenário cultural nacional, mas quando a banda Guns N’ Roses tocou os primeiros acordes no Estádio Serra Dourada, em 2022, o estado vibrou de uma forma diferente e subiu no palco principal também. A cultura de Goiânia teve um “boom” gigantesco pós pandemia: festivais, exposições, eventos de ruas e museus cheios. Por trás dessa ascensão, estão políticas públicas federais, apoio de rádios locais e uma população fascinada por arte.

Crescimento visível
A retomada cultural em Goiás não foi silenciosa, ela veio com luzes, palcos gigantes e multidões. Desde 2022, o número de grandes shows e festivais cresceu significativamente. Além da tradicional Pecuária, que em 2025 abriu os portões ao público com ingressos gratuitos, Goiânia agora abriga eventos inéditos e recebe artistas que antes não passavam por aqui. “Hoje a gente tem shows grandes todos os meses. E de artistas que estavam fora da rota”, diz Marcos Alan da Costa, das rádios Rock e Alpha, que atua como media partners de grandes produtoras.
Políticas Públicas: as leis que injetaram vida na cultura
Por trás de toda a festa, tem também a parte burocrática – no bom sentido. Aprovada em meio à crise política na pandemia, a Lei Paulo Gustavo injetou verba nos estados e municípios brasileiros, e Goiás soube aproveitar bastante. Os recursos são geridos diretamente pela Secretaria de Cultura do Estado, que seleciona os projetos locais, fazendo o dinheiro público virar acesso à arte.
Segundo o gerente de Editais de Arte e Cultura, Sacha Witkowski Ribeiro de Mello, a PNAB (Lei Aldir Blanc) tem sido fundamental para o crescimento da cultura em Goiás. “A Lei Paulo Gustavo era parcialmente emergencial e 70% dela foi destinada para o audiovisual. Já a Aldir Blanc (PNAB), é do âmbito da cultura como um todo e tem duração de 5 anos, podendo ser contínua também, o que abre portas para continuar (o investimento na cultura).”
Rádios: o elo Entre palco e público
As rádios possuem um papel importante nesse crescimento, pois conectam o público às experiências. “A gente não produz os shows, mas trabalha com várias produtoras de fora como media partner. Fazemos promoções, sorteios, colocamos os ouvintes cara a cara com os artistas”, conta Marcos Allan. Esse trabalho tem sido essencial para atrair novos públicos e criar experiências únicas aos ouvintes.
O investimento cultural traz retorno tanto para a rádio quanto para o público: mais cultura gera mais engajamento. O gerente de Editais, Sacha, reforça a importância dessa relação: “quando a gente faz parceria com os veículos da comunicação para mostrar para a sociedade que a Secult está executando alguns eventos grandes, seja no Oscar Niemeyer, no teatro ou nas periferias, estamos tendo uma transparência pública do recurso investido.”
O gerente também ressaltou que sempre pedem para os artistas deixarem claro que o evento possui apoio da Secult e da Lei: dessa forma a população saberá que o evento está sendo realizado com dinheiro público, ou seja, retorno dos impostos pagos pela população.
Museus e formação de público
Na capital o Museu de Arte Goiana vive também um ótimo momento. Exposições mensais recebem cerca de 4 mil visitantes, um número expressivo para o local. “Temos tido um aumento sensível no público”, diz Antônio da Mata, diretor do Museu. Segundo ele, a prioridade de público do Museu são as escolas, por estarem em formação e terem o potencial de desenvolver novos olhares. O museu vai além das artes visuais, tem também shows, lançamentos de livros e CD’s.
Desafios futuros
Esse crescimento acelerado traz um problema antigo: o déficit de espaços com estruturas para receber grandes públicos. “A gente tem poucos lugares bons em Goiânia pra shows acima de 10 mil pessoas”, aponta Marcos. Com isso, as produtoras de grandes shows variam entre o Goiânia Arena, Estádio Serra Dourada e o Centro Cultural Oscar Niemeyer. Muitas coisas são levadas em conta para a realização de um evento: som, luz, estrutura, estacionamento e segurança. Sem infraestrutura adequada, não há como sustentar esse crescimento.
Sacha ressaltou que, através da PNAB, a Secult avalia expandir centros culturais para além do centro de Goiânia, como para as regiões noroeste, sul e sudoeste. “É possível solicitar recurso para se manter, como: aluguel, pagar água, telefone, luz, segurança, internet, comprar computador […], pra depois pensarmos em transformar o local em espaço cultural para receber os artistas e o público.”

Goiás no mapa nacional
Em 2023, Goiás investiu cerca de R$ 40 milhões em quase 300 projetos culturais em mais de 75 municípios, através do Programa Goyazes. Isso fez com que o estado liderasse o ranking de investimentos em cultura nesse ano, superando Pernambuco, líder em 2022. Essa movimentação não passou despercebida: produtores de todo o país começaram a incluir Goiânia em suas agendas. A cidade, que antes era apenas “meio do caminho”, agora é o destino de grandes artistas.
Para Antônio, o desafio agora é consolidar o que foi construído. Marcos acredita que o momento é de celebração. “A gente entrou de vez na rota dos grandes eventos”. E para o público goiano é a chance de aproveitar e viver seus eventos e cultura de forma jamais vista.
