quarta-feira, 23 de outubro de 2024
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Educadores expõem importância da valorização da cultura indígena em exposição fotográfica no Memorial do Cerrado

Com registros inesquecíveis e atividades recreativas relacionados a ancestralidade dos povos originários, o evento apresenta acessibilidade da memória histórica

Em comemoração à Semana dos Povos Indígenas, o Museu de História Natural, mais conhecido como Memorial do Cerrado, promoveu um evento sobre as ancestralidades dos povos originários durante todo o mês de abril. As atividades ocorreram no Campus II, no Jardim Mariliza, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC GO), e tiveram como objetivo mostrar a relevância e a importância dos povos indígenas, promovendo assim a educação, a partilha dos costumes e da cultura destes povos com as crianças.  

Para facilitar e enriquecer as experiências e contato com a cultura indigenista, professores, monitores, ativistas e representantes indígenas estavam presentes no local dando palestras, contando histórias, trazendo memórias, possibilitando experiências sensoriais para as crianças terem uma noção de como é uma escavação arqueológica. Para vivenciar um pouco das experiências que estão disponibilizadas aos visitantes, a equipe de reportagem do Impressões teve a oportunidade de passar uma parte da manhã, para conferir a programação preparada especialmente para a Semana dos povos indígenas pelo Memorial do Cerrado. 

Uma jornada fotográfica pelos povos originários

Confecção de flechas pelos homens Taiparé | Foto: Reprodução/Antônio Carlos Moura/Fernando Lima

As obras da exposição “Ancestralidade Viva: uma jornada fotográfica pelos povos originários” trouxeram a percepção da vida e as lutas diárias dos povos indígenas da região Centro-Oeste brasileira, entre eles: os Karajás, Tapirapés e Avá – Canoeiro. As fotos foram produzidas durante os anos de  1920 e 1950, por fotógrafos não indígenas. Contudo, parece que esse pequeno detalhe não impediu os profissionais de criarem algo que teletransportasse os visitantes para o cenário das rotinas indígenas.

Jesco von Puttkamer, Walter Sanches, Antônio Carlos Moura e Franca Vilarinho decidiram explorar novas formas de narrar a jornada protagonizada por estes povos e registrar essas experiências do cotidiano indígena para as futuras gerações. Ao olhar a exposição, percebe-se  que cada obra reflete a construção de um patrimônio, herança, memória, tradições e resistências de um povo que descobriu as terras brasileiras em primeira instância, mas que infelizmente foram violentados por colonizadores sem alma e dignidade. 

Nicali Bleyer, de 43 anos, professora de Geografia e coordenadora do evento, explicou a importância de a universidade ser uma fonte de espaço aberto ao diálogo. “A universidade deve ser um espaço de diálogo entre diferentes culturas e saberes. A Semana dos Povos Indígenas é uma oportunidade para que os estudantes e a comunidade em geral possam conhecer e valorizar mais a cultura indígena”, afirmou.

A docente ainda destacou que essa é uma ótima oportunidade para discutir a luta dos povos indígenas pela demarcação de terras e pela preservação de sua cultura, que recentemente vêm sofrendo atos genocidas. “A exposição é uma forma de conscientizar as pessoas sobre a luta dos povos indígenas por seus direitos e sobrevivência, em um contexto de ameaças e pressões de todos os lados”, acrescentou.

Apesar da mostra fotográfica trazer registros de indígenas de várias regiões brasileiras, o interessante foi que buscaram reforçar a importância de trazer os povos originários do Estado de Goiás. Demonstrando a importância de destacar a existência dos povos no Estado, que tem sofrido um constante apagamento de suas existências.  Como os registros dos povos dos Avá-Canoeiro, Karajás, assim como do seu artesanato e outros objetos cotidianos, inclusive flechas de caça e de defesa contra as invasões de terras feitas pelo homem branco. Atualmente, existem cerca de 30 habitantes do Território Indígena Taego Ãwa, no município Formoso do Araguaia, e de nove indígenas nos municípios de Minaçu e Colinas do Sul. 

A arte indígena

Artesanatos e cerâmicas feitas pelos povos indígenas | Foto: Reprodução/Fernando Lima

Existem diversas expressões artísticas indigenistas no Memorial do Cerrado, e as  pinturas e artesanatos dos povos originários não poderiam ficar de fora. Os desenhos infantis das crianças indígenas de 1980, dos povos Xavante e Karajás, também compõem a exposição. E eles retratam o cotidiano das aldeias, como a caça, o banho de rio, a colheita, pinturas corporais, artesanatos, a pesca, retratando as rotinas e as experiências do dia a dia. 

As crianças indígenas são criadas dentro de uma lógica coletiva e solidária, para se desenvolverem e amadurecerem. Os valores da aldeia estão voltados para a concepção de que cada um é dono de si e devem respeitar as normas e deveres da sua cultura, no entanto, a vivência e a partilha é coletiva e socializada com toda aldeia, independente dos parentescos.

Além dos desenhos, também houve a exposição de artesanatos, instrumentos musicais, roupas e adornos que vieram de várias culturas indígenas. A produção de cerâmica é um trabalho que está destinado ao público feminino. Porém, os conhecimentos e habilidades para a transformação de argila em vasos e artefatos são adquiridos desde criança. 

A indígena Alawero Meynako comentou sobre a importância do artesanato para valorizar mais a cultura. A ativista também trabalha como artesã e conta que a maioria das perguntas que ela recebe é se usar o artesanato ou comprar é apropriação cultural. “Tem muita diferença de se apropriar e de valorizar a cultura”, enfatizou.

A ativista da luta indígena Alawero Meynako comenta sobre a importância social de disponibilizar eventos como esse para a população | Foto: Reprodução/ Fernando Lima

Crianças atentas às narrativas dos contadores de estórias

Alunos da Instituição Estadual de Ensino Castro Alves ouvindo a narração de história do povo Karajá | Foto: Reprodução/Fernando Lima

A narração de histórias foi uma dinâmica utilizada para aproximar as crianças da visão e da mitologia indígenas. A atividade aconteceu aplicando uma roda de conversa, em que a antropóloga Leila Fraga, e o professor de Educação Física Marcus Vinicius Correia, interpretaram personagens clássicos e conhecidos da história dos povos Parkatêjê-Gavião.  

Meynako reforça que a escola é um agente social para combater ações preconceituosas e ignorantes. Ela acredita que a influência que vem de casa é algo significativo, afinal muitas pessoas ainda convivem com uma ideologia ultrapassada e acabam repassando para os filhos. Com isso, o foco desses memoriais é transformar intelectualmente e culturalmente as crianças e adolescentes que ainda estão em processo de formação.

A docente da cultura da PUC Goiás, Ludmilia Justino, alega que todas as dinâmicas seguem a linha de demonstrar que há outras vivências além da que vivemos diariamente.

Professora Ludmilia aponta os desafios e objetivos da Semana dos Povos Indígenas | Foto: Reprodução/Fernando Lima

“É uma oportunidade para as escolas trabalharem assuntos que farão diferença na vida das crianças. Por exemplo: O que é ser indígena? Será que ser indígena é estar  e somente usar pinturas corporais, adornos, não utilizar roupas, viver dentro da aldeia ou ser indígena é ocupar espaços, seja ele dentro da universidade, trabalhando, exercendo a profissão? A resposta é não. Eles não deixam de ser indígena, pois ser um integrante dos povos originários requer integridade, o conhecimento cultural que ele carrega que conta no final de tudo”, refletiu. 

De modo geral, a exposição “Ancestralidade Viva” é uma oportunidade para a população conhecer e valorizar  a importância e relevância da cultura e a luta dos povos indígenas. Além de estabelecer mais um espaço de diálogo entre diferentes culturas e saberes, como a preservação da cultura indígena e a luta por seus direitos, como a demarcação de territórios, a saúde e o seu modo de vida.

EQUIPE DE COBERTURA JORNALÍSTICA:

Editora Geral: Gabriella Serrano

Editor de Redes Sociais: Diego Augusto

Editora do texto: Victória Vieira

Repórteres: Lorenzo Barreto, Gustavo Camargo e Victória Vieira

Imagens: Fernando Lima

Supervisão Geral: das professoras Noêmia Félix da Silva (Jornalismo Científico e Ambiental) e Carolina Zafino (Ciberjornalismo).