quarta-feira, 23 de outubro de 2024
InicialObservatório de Mídia

“Educação midiática é cada vez mais premente”

Professora Márcia Blasques, da USP / Foto: Acervo pessoal

Profª Drª Márcia Blasques

A 10ª edição do Seminário do Observatório da Mídia da PUC Goiás recebe a professora da Universidade de São Paulo (USP), Márcia Blasques, editora executiva da Superintendência, responsável pelo Jornal da USP, Rádio USP, Canal USP e Revista USP e pelas redes sociais oficiais da Universidade de São Paulo como uma das palestrantes, dentro do circuito Ciência em Casa 2024, em 10 de abril, às 19 horas, no canal da PUC no YouTube. Em entrevista à Agência Impressões, a professora destacou a importância da educação midiática para escapar da epidemia de desinformação que se fortalece com recursos da Inteligência Artificial (AI) e discutiu os obstáculos da educação brasileira para integrar efetivamente os processos de educomunicação. 

Impressões: Na sua visão, quais são os principais obstáculos enfrentados pela educação brasileira para integrar efetivamente a Educomunicação e promover uma formação que capacite os alunos para o uso responsável e crítico das mídias?

Márcia – Eu acho que os principais obstáculos para promover a educação midiática no Brasil são os problemas tradicionais da educação brasileira, questões de financiamento, questões como desigualdade nas aplicações das políticas públicas. Você veja, por exemplo, escolas particulares de primeira linha que conseguem alimentar projetos de comunicação, de comunicação midiática, enquanto escolas com menos recursos têm dificuldades por conta da formação de professores ou por conta da falta de estrutura, esse tipo de coisa.

Impressões: Considerando fenômenos atuais como fake news e pós-verdade, como você enxerga a importância da democratização da educação midiática para promover uma cultura de comunicação mais crítica entre os estudantes e a sociedade em geral?

Márcia – Eu acho que a situação atual tende a ficar cada vez mais dramática por conta do uso de inteligência artificial, por conta de deepfakes, e pela maneira como essas coisas se espalham muito rapidamente pelas redes sociais. Acredito que a educação midiática é uma coisa cada vez mais premente. A gente vive num mundo em que não é possível mais que as pessoas não tenham as condições mínimas de identificar se uma informação é de qualidade ou não é de qualidade, se ela é confiável ou se ela não é confiável. Eu acredito firmemente que a manutenção da própria democracia hoje depende das pessoas terem condições de verificarem esse tipo de questão.

Impressões: Diante das transformações digitais e da rápida evolução das mídias e tecnologias de comunicação, como a Educomunicação tem sido adaptada e aplicada na gestão e produção de conteúdo para os veículos de comunicação da USP, como o Jornal da USP, Rádio USP e Revista USP?

Márcia – Tem algumas experiências bem interessantes, tanto internacionalmente quanto coisas que a gente tenta fazer localmente no Jornal da USP e etc. Acho que existe uma questão no jornalismo que é deixar claro para o leitor, para o espectador ou para o ouvinte como aquela matéria foi feita, que fontes foram procuradas, de que forma a apuração foi realizada, quem é a pessoa que está por trás da matéria, quem fez a apuração e quem redigiu o texto. Dando esse tipo de informação para a pessoa que está recebendo a notícia, você acaba chancelando de forma mais fácil aquilo como um conteúdo verdadeiro. Então deixa eu te dar alguns exemplos. O jornal The New York Times começou a colocar na assinatura dos seus repórteres quem eles são e de onde eles fazem as apurações. Há, por exemplo, em uma mesma matéria, “Fulano de tal” apurou direto de Washington por telefone e “Ciclano” apurou no local falando diretamente com tais e tais pessoas. No jornal da USP, também meio nessa linha, a gente há um tempo começou a indicar quem está produzindo a matéria. Dessa forma a gente diz quando a pessoa que fez a matéria é um jornalista formado, um profissional ou quando a pessoa é um estagiário e nesse caso colocamos quem o orientou naquela matéria. São coisas simples que podem parecer pequenas, mas eu acho que aos poucos elas vão dando um caráter de confiabilidade para o conteúdo jornalístico que é produzido.

Impressões: Como a Educomunicação pode contribuir para a construção de uma comunicação mais efetiva e inclusiva dentro de instituições de ensino superior, considerando seu papel na formação de estudantes e na disseminação do conhecimento acadêmico?

Márcia – Eu acho de verdade que a educação midiática é fundamental para a manutenção de uma boa comunicação nesse ambiente que a gente vive, cercado de fake news e de notícias de procedência duvidosa e de exageros e de coisas totalmente criadas. É importante que dentro do ambiente universitário os nossos alunos, nossos docentes e nossos funcionários também tenham condições de diferenciar o conteúdo de qualidade do conteúdo que não é de qualidade. Isso pode ser feito por meio da educação midiática.

Impressões: Qual é a sua expectativa em relação ao debate sobre Educomunicação no evento Ciência em Casa da PUC Goiás, considerando a relevância desse tema para a formação acadêmica e para a sociedade em geral?

Márcia – Acho que esse tipo de conversa é sempre muito interessante, principalmente quando reúne pessoas com formações diferentes, de locais diferentes. Acredito que é uma contribuição importante, porque a gente não tem mais tempo de não implementar determinadas questões agora. A gente vai ter eleição este ano, você vê que as ferramentas de criação de texto, de imagem, de vídeo estão cada vez mais avançadas, num custo cada vez mais barato, então isso vai se tornar uma realidade cada vez mais presente nas nossas vidas. É um momento oportuno e acho que é uma contribuição super relevante .

EQUIPE DE PRODUÇÃO JORNALÍSTICA:

Edição final: Rogério Borges

Entrevista: Giovanna Lyssa

Fotografia: Acervo pessoal

Supervisão Geral: Rogério Borges (Jornalismo Opinativo) e Carolina Zafino (Ciberjornalismo).

*O conteúdo produzido e publicado no Impressões, no espaço do Observatório de Mídia da PUC Goiás, é resultado de um processo de aprendizado pedagógico do curso de Jornalismo da PUC Goiás dos alunos nas disciplinas de Jornalismo Contemporâneo e Jornalismo Opinativo.