quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Ponto de Vista

Eclipse lunar

Crônica de Renata Matias

Lá estava eu, às 4 da manhã, observando um eclipse lunar. Logo eu, que mais chego atrasada que no horário em todos os lugares, por não conseguir acordar. Mas, a lua só ficaria vermelha daquele jeito raríssimas vezes, não era um evento que eu poderia deixar passar. O próximo só aconteceria em 2025, pelo menos foi o que disseram. No terraço do prédio, desenrolei um colchonete, joguei algumas almofadas e coloquei meu fone. Foi mágico, eu a música e o eclipse.

Enquanto eu olhava aquele fenômeno, tão lindo, percebi o quanto o quanto teria sido fácil perdê-lo. E não é assim mesmo que a vida acontece? Recheada de fenômenos lindos que só acontecem uma vez a cada século, e que se não estivermos bem atentos, eles passam sem nos deixar chances de os ver novamente? Soube naquela noite que não estava observando a vida como ela merecia, e que não me daria mais chances de não ser abençoada pelos eventos únicos da vida.

No domingo daquela mesma semana, fui para um projeto social, como de costume em todos os meus domingos. Caía uma chuva bem forte o que fez com que, naquele momento, eu me arrependesse muito de ceder à pressão social de fazer chapinha no cabelo. Minha maquiagem escorria, e eu corria para não deixar as crianças desabrigadas. Ao fim da manhã, minha amiga insistiu para que eu fosse almoçar na casa dela para conhecer seu namorado. E eu, toda mal arrumada, só queria deitar na minha cama e dormir o resto do dia. Uma voz veio a minha cabeça dizendo: “Fenômenos únicos”. Então fui.

Quando cheguei, lá estava o namorado da minha melhor amiga. Um cara simpático e muito bonito por sinal. Quando virei a sala, lá estava o irmão dele. Por alguns segundos me senti no terraço do meu apartamento, às 4 da manhã, vendo o eclipse lunar. Parecia que só iria ter aquela visão uma vez na vida de tão rara. Conversamos o resto da tarde, que mais parecia 1 hora de tão rápido que passou. Tá, mais pareciam 20 anos de tão íntimos que já estávamos. Lá ele me contou que não iria ao almoço porque estava com vergonha por não conhecer ninguém, mas resolveu testar algo novo. Eu sorri, ele também.           

Hoje, dois anos depois, ele me pediu em casamento. Acordei em um quarto rodeado de flores, e ele ajoelhado ao pé da cama. Sim, ele foi meu evento único. Meu fenômeno que só acontece uma vez na vida. O meu cometa Halley. Mas para vê-lo, precisei levantar às 4 da manhã e subir até o terraço do apartamento. Precisei abrir os olhos, e estar bem atenta. A vida é cheia dessas. Transborda momentos únicos, que só passam para quem os quer e os busca. E você? Tem se levantado da cama para vivenciar momentos que só acontecem uma vez a cada século?