Doença interfere na qualidade de vida e compromete atividades diárias e relações interpessoais
Por Thais Alves Dias
O número de pessoas depressivas cresceu significativamente nos últimos anos. Só em 2019, quase um bilhão de pessoas viviam com esse transtorno de saúde mental, de acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, os casos de depressão cresceram 41% entre o período pré-pandêmico e o primeiro trimestre de 2022, de acordo com a pesquisa Covitel, da Vital Strategies e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
“O isolamento social, quarentena, crise financeira, mortes e alterações na educação com aulas on-line, híbrido e presencial provocaram diversas questões psicológicas e psíquicas, como ansiedade, transtorno de pânico, compulsões e obsessões, diante das dificuldades que enfrentaram antes, durante e pós pandemia”, explica a psicóloga do Instituto de Psicanálise e Psicologia de Anápolis (IPPA), Kátia dos Santos Cardoso.
O programador Pedro Augusto Nunes, 30, sentiu na pele o impacto desse período. “Minha depressão teve uma piora muito grande durante a pandemia, quando acabei perdendo absolutamente tudo que construí em 30 anos”, afirma.
Aproximadamente 280 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão, cerca de 3,8% da população do planeta é afetada, incluindo 5% de adultos, de acordo com a OMS. A doença é considerada a principal causa de incapacidade, causando um ano de inabilidade em cada seis anos vividos.
Para a psicóloga Kátia Cardoso, é preciso ficar atento aos principais sintomas, pois a doença pode começar de formas diferentes. “Perda de energia, distúrbios do sono, sentimentos de inutilidade, culpa excessiva, tristeza profunda constante, ansiedade, irritabilidade, baixa autoestima, angústia, distúrbios do apetite, pensamento de morte e ideação suicida”, alerta.
Efeitos
A depressão provoca quadros clínicos variados que impactam diretamente a qualidade de vida. Recorrente ou não, de intensidade moderada ou grave, a doença causa sofrimento e prejudica o dia a dia do indivíduo. “Eu perdi 10 quilos e fiquei internada com febre alta, com as plaquetas caindo, além disso, eu tive uma recaída no meu quadro depressivo que desencadeou uma fobia social”, relata a estudante de Psicologia Veida Lima.
A dona de casa Camila Queiroz, que tem 31 anos e lida com a depressão desde os 13 anos, também já sofreu muito. “Eu já fiquei mais de um mês trancada em um quarto sem ver a luz do sol. Cheguei a perder 10 quilos, tive queda de cabelo, insônia, sempre estava de olhos inchados, tinha dores de cabeça forte e manchas roxas no corpo”, pontua ela.
Dentre os quadros mais severos, a doença pode levar ao suicídio. Todos os anos mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida, segundo estimativa mundial da OMS. Entre os anos de 2000 e 2019, a taxa global diminuiu 36%. Mas, no mesmo período, o continente americano teve um aumento de 17%. O suicídio aparece como a quarta causa de morte mais recorrente entre os jovens de 15 a 29 anos.
“Nesse caso, o sujeito busca o alívio de uma dor psíquica devido a problemas conjugais e financeiros, conflitos familiares, perdas, ansiedade significativa, problemas crônicos de saúde, doenças graves, abusos físico e sexual, consumo de álcool, isolamento, hipomania e entre outros”, diz Kátia.
Rede de apoio
A psicóloga orienta que a rede de apoio é essencial e encontrar amparo no grupo social do indivíduo faz toda diferença. “É o círculo social que vai estar com o sujeito toda parte do tempo, portanto, poderá observá-lo nas suas dificuldades e suas mudanças. Vai ajudar esse sujeito também na recuperação de suas atividades diárias. A pessoa com depressão que tem um círculo social presente, com certeza, passará por um tratamento de muito mais sucesso”.
No caso de Camila Queiroz, a rede de apoio foi essencial. “Quem vive dentro da depressão lida com os piores medos, inclusive da rejeição, de achar que ninguém se importa e que ninguém te ama, que você é um fardo. Ter o apoio muda totalmente porque mostra que tem pessoas que não desistiram de você ainda”, conclui.
Kátia Cardoso reforça a importância de buscar ajuda ao sentir os primeiros sintomas. Ela destaca a relevância do Setembro Amarelo. “É importante para tentarmos entender as pessoas que passam por situações de tanto desespero que podem levá-las às ideações suicidas e muitas vezes conseguirem fazer essa passagem ao ato que é o suicídio. É importante também para conscientizar sobre prevenção, sobre como lidar com as contingências da vida buscando outras possibilidades que as façam viver e não morrer”, finaliza.
O que é depressão?
A depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que causa transtorno de humor.
Quais são os sintomas?
– Alteração do sono (o individuo passa a dormir pouco ou demais);
– Alteração do apetite ou de peso (a pessoa passa a comer pouco ou muito);
– Redução da atenção, da concentração e da memória;
– Cansaço ou baixo nível de energia;
– Pensamento de culpa, baixa autoestima, desesperança em relação ao futuro, morte ou suicídio;
– Irritabilidade, impaciência, pessimismo e negatividade;
– Tristeza profunda constante e anedonia.
Se sentir algum desses sintomas procure ajuda. Em caso de crise, o Centro de Valorização da (CVV) disponibiliza ajuda especializada durante 24 horas. Basta ligar para o telefone 188 ou acessar o chat pelo site. O site Mapa da Saúde Mental permite a consulta de locais que oferecem atendimento gratuito, voluntario ou com preços acessíveis no país.