domingo, 22 de junho de 2025
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Como as árvores curam as cidades 

Entenda a importância da arborização urbana e os benefícios trazidos aos moradores das grandes metrópoles - bem como ao resto do mundo

Parque Flamboyant, em Goiânia. Foto: Luanna Mendes.
Parque Flamboyant, em Goiânia. Foto: Luanna Mendes.

Por Débora Ferreira, Emilly Matos, Guilherme Ferreira, Luanna Mendes, Núbia Nunes e Rebeca Oliveira

Supervisão: Prof.ª Gabriella Luccianni

Aos sábados e domingos, um movimento diferente começa a surgir pelos bairros da cidade de Goiânia. Muitas pessoas aproveitam os parques para relaxar na grama, saborear alguma comida gostosa, jogar uma partida de vôlei ou simplesmente respirar ar puro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiânia é a segunda capital mais arborizada do Brasil, atrás apenas de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

No ano de 2023, Goiânia ganhou o título de Cidade Mais Arborizada do Mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU), com cerca de 1 milhão de árvores distribuídas por seus 32 parques e bosques.

Cidades mais arborizadas do Brasil. Fonte: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2025/04/20/campo-grande-e-a-capital-mais-arborizada-do-brasil-apontam-dados-do-ibge.ghtml. Gráfico: Débora Ferreira.

O Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU) foi elaborado pela Gerência de Arborização Urbana da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) – órgão municipal responsável pelo desenvolvimento sustentável de Goiânia – com pesquisas feitas diretamente para monitorar a presença de árvores em vias públicas da cidade, calçadas, ilhas e praças, e para garantir o plantio, poda e a retirada de árvores em áreas impróprias.

A arborização urbana oferece vários benefícios para os habitantes das grandes cidades, como a melhora do clima seco, da qualidade do ar, a redução do estresse e consequentemente o fortalecimento da saúde, além de agir ativamente na prevenção de enchentes – um evento comum e frequente durante as épocas de fortes chuvas em Goiânia.

A partir dos fatos acima, é perceptível que, mesmo a capital goiana sendo um grande centro urbano em constante evolução, a presença das árvores é imprescindível, uma vez que elas melhoram de forma direta a vida de toda a população.

Torna-se cada vez mais necessário ensinar à sociedade que essa evolução não depende somente da onda inacabável de prédios em construção que encontramos pela cidade – prédios estes tão grandes que são quase maiores do que a nossa expectativa de vida em meio a tanta poluição e degradação do meio ambiente.

A importância dos ambientes arborizados

A arborização urbana é um conceito que se refere ao plantio e ao cuidado de árvores em áreas urbanas, como parques, praças e ruas. Esse cuidado para com as árvores reflete em um ambiente arborizado, melhorando a qualidade do ar e a regulação do clima, como já foi citado anteriormente.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), ambientes arborizados enriquecem a qualidade de vida dos cidadãos, aumentam o sistema imunológico e promovem também o bem-estar relacionado à saúde mental. Isso acontece porque a existência de ambientes verdes nas cidades alivia o estresse de quem os frequentam, e incentiva até uma maior interação social. Além disso, a qualidade da água é melhorada e os impactos dos eventos severos como furacões e secas extremas tendem a diminuir.

Por outro lado, existem as cidades brasileiras que mais sofrem pela falta de arborização. São elas: Rio Branco (AC), Macapá (AP) e Manaus (AM).

Piores cidades brasileiras em termos de arborização urbana. Fonte:  https://veja.abril.com.br/agenda-verde/censo-capitais-da-amazonia-tem-ruas-menos-arborizadas-cidades-do-agro-sao-exemplo-positivo. Gráfico: Débora Ferreira.

Menos um ponto para as academias

De acordo com Elisete Ferreira, sua caminhada ao ar livre se torna uma atividade mais prazerosa do que ir à academia. Ao andar 40 minutos no ambiente externo na cidade onde morava, ela viu esse tempo diminuir para 30 minutos na academia onde mora. “O ambiente não influencia o exercício, nem o efeito que a atividade tem no corpo, porém, é mais prazeroso se exercitar em um lugar aberto do que na academia”, afirma Elisete.

A paisagem da academia não tem graça, essa é a verdade. Elisete frequenta uma academia rodeada por concretos: de um lado, uma construção; de outro, um aglomerado de casas e prédios. Apesar das amplas janelas e vidros, o grande ventilador ligado não traz frescor, nem animação. Enquanto isso, academias com mensalidades acima dos R$ 100 competem com praças e parques públicos – gratuitos e, muitas vezes, mais convidativos ao corpo e à mente.

Usuários do Reddit discutiram o assunto, e, muitos concordam que fazer caminhada ao ar livre é melhor do que na academia. “Definitivamente é mentalmente mais fácil para mim. Posso caminhar quilômetros lá fora, admirando a paisagem e aproveitando o ar fresco. Não suporto a esteira. É tão chato”, escreveu um usuário. Outro usuário respondeu ao mesmo post com “Nature = Nurture”, que em tradução direta seria “Natureza = Nutrir”.

Projetos que incentivam um mundo arborizado

No dia 5 de junho é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente. Sendo a segunda cidade mais arborizada do Brasil, Goiânia não pode – e nem deve – se ausentar das comemorações. Em 2025, a Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) preparou uma programação repleta de incentivos ao plantio de novas árvores e à preservação daquelas que já existem.

Desde o plantio de mudas, apresentações infantis, mostras artísticas e até palestras e reuniões com a Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Goiás (Acieg), as iniciativas visam educar rumo à sustentabilidade e envolvem as crianças, educadores e os demais moradores da cidade, incluindo gestores e grandes empresários.

Em uma região um pouco mais distante, existe a Mombak, uma startup brasileira que trabalha com o reflorestamento a partir do crédito de carbono, que consiste em uma técnica pensada para remover os gases de efeito estufa da atmosfera. 

Fundada em 2021 pelo ex-CFO do Nubank, Gabriel Silva, e pelo ex-CEO da 99, Peter Fernandez, a empresa tem o objetivo de restaurar áreas desmatadas da Amazônia e ainda possui o potencial de capturar de 2 a 3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono – gás altamente tóxico e responsável em parte pelo efeito estufa – da atmosfera terrestre a cada ano.

Os fundadores da Mombak deixaram seus cargos em empresas gigantescas para correrem atrás do seu sonho de resolver os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Nessa jornada, eles já conseguiram importantes investidores como o Google, a Microsoft, o Banco Mundial, o BNDES, além do Development Finance Institution (DFC), a Bain Capital Partnership Strategies, a Fundação Rockefeller, a seguradora AXA, o Canada Pension Plan Investment Partners e até mesmo a McLaren Racing.

A relação entre a natureza e arquitetura 

Soraya Mendes é formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Professor Edson Antônio Velano (UNIFENAS), especializada em Paisagismo e Plantas Ornamentais na Universidade Federal de Lavras (UFLA), mestra em Ciências e Tecnologia da Madeira e especialista em Design de Interiores e Home Staging pelo L’institut de Design d’Intérieur em Paris, na França.

Arquiteta Soraya Mendes. Foto: Arquivo Pessoal.

A arquiteta explica a importância da arborização nas cidades. “Para mim, as árvores vão muito além da estética, elas atuam como uma infraestrutura verde, criam o sombreamento nas calçadas e ajudam a dar uma melhor qualidade de vida para o pedestre”.

Soraya esclarece também alguns benefícios para os habitantes e à própria cidade quando se tem árvores plantadas nas ruas. “Temos parques lindos aqui (em Goiânia) e eu acredito que as sombras das árvores tornam o caminhar mais confortável, especialmente porque temos um clima muito quente e seco, e eu acho que contribui para um bem estar mental e emocional, além de criar uma sensação de acolhimento que poucas cidades conseguem oferecer”.

Com o crescimento acelerado de novos loteamentos, construções residenciais e edifícios, surge uma preocupação com a ocorrência da derrubada de grande parte das árvores, que são interpretadas pelas construtoras como obstáculos. A profissional revela um impasse presente nesse cenário. “A principal dificuldade é equilibrar esse crescimento urbano com a preservação ambiental. Há também os desafios relacionados à manutenção, e a gente precisa pensar nesse verde como uma parte essencial da infraestrutura da cidade, não como um luxo ou estética”.

Mural de fotos ecológico

Gansos no Parque Flamboyant, em Goiânia. Foto: Luanna Mendes.
Gansos no Parque Flamboyant, em Goiânia. Foto: Luanna Mendes.

Criamos um espaço interativo nesta reportagem para que você se sinta à vontade para compartilhar uma foto da área arborizada (ou não) que costuma frequentar – pode ser uma praça, uma trilha ou qualquer outro lugar. 

Para participar, não é necessário ter uma conta: basta colocar o nome do local no assunto e escrever uma frase. O site pedirá seu nome (caso você publique como convidado) e, claro, a sua foto. Simples assim.

A ideia é construir um mural coletivo, onde diversas pessoas contribuam mostrando sua visão do ambiente ao redor. Basta clicar aqui para ser redirecionado.

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