quarta-feira, 23 de outubro de 2024
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Clube de Leitura do Observatório de Mídia: incentivo para o debate e o senso crítico

Projeto visa auxiliar estudantes de jornalismo a serem profissionais de qualidade, exercitando o hábito de ler e escrever com voz autoral

Mestranda em Crítica Literária, Larissa Oliveira participa da aula de Teorias do Jornalismo. Foto: Emilly Mattos.

Por Emanuella Messias (Monitora do Observatório de Mídia da PUC Goiás, sob supervisão do Prof. Rogério Borges)

O Observatório de Mídia, em trabalho integrado com as disciplinas de Teorias do Jornalismo, ministrada pelo professor Rogério Borges, e Análise de Conteúdo e Discurso Jornalístico, ministrada pela professora Sabrina Moreira, estimula os alunos de jornalismo a participar do Clube de Leitura. O projeto, que visa enriquecer o conhecimento, vocabulário e senso crítico dos futuros profissionais da área, faz parte das atividades de Estágio Docência de mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Goiás.

Mestranda em Literatura Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Larissa Oliveira é uma das participantes do Clube de Leitura. Sua contribuição consiste em auxiliar o professor Rogério Borges nas aulas, que têm como objetivo dar uma formação mais plural e ampla aos futuros profissionais do Jornalismo, trazendo a leitura como protagonismo nesse processo. É, ainda, um caminho para suscitar debates que possam enriquecer a formação geral e cultural dos estudantes. “A ideia é que os alunos não só mostrem do que gostaram, mas expliquem as razões de terem gostado, tendo uma forma de visão mais crítica e não só interpretativa”, afirma Larissa.

Outra mestranda da PUC-GO em Letras, Literatura e Crítica Literária, Carmem Lucia Pereira também irá desenvolver atividades no projeto. Em sua opinião, a literatura desempenha um papel crucial tanto na formação profissional do jornalista quanto na formação pessoal do cidadão. Para os jornalistas, ler possibilita que eles tenham um olhar mais humanizado e uma comunicação mais eficaz. “Eles podem mergulhar em diferentes estilos narrativos e perspectivas culturais. O jornalista amplia seu repertório, desenvolve empatia e aprende a abordar fatos com mais nuance e criticidade”, considera.

Todos são enriquecidos pela literatura, pondera Carmem Lucia, que é graduada em Pedagogia. O ato de consumir livros literários serve como uma porta de conhecer novos autoconhecimentos, o indivíduo é levado a reflexões sobre o mundo e à compreensão das complexidades do ser humano. “Esse cidadão se depara com dilemas éticos, sociais e morais que o ajudam a moldar sua visão de mundo e a fortalecer sua capacidade de argumentação e análise crítica”, destaca Carmem. Ela ressalta que essa prática resulta numa possibilidade de interação com a realidade de maneira mais informada e sensível. Nas palavras de Larissa Oliveira: “você sai na frente.”

Professora da disciplina Análise de Conteúdo e Discurso Jornalístico e coordenadora do curso de Jornalismo da PUC Goiás, Sabrina Moreira diz que numa sociedade democrática, o cidadão, não incluindo apenas os jornalistas, está envolto numa exigência de acompanhar e participar dos espaços digitais, uma vez que estes dominam na atualidade a partir da produção discursiva. Portanto, Sabrina salienta que ler ou escrever é participar do debate público e a literatura é uma ferramenta que auxilia nessa construção de discursos.

Além do que se aprende em Teorias do Jornalismo, o professor Rogério Borges, coordenador do Observatório de Mídia da PUC Goiás, explica que os livros são uma das formas de desenvolver um imaginário, da mesma maneira que o teatro, as artes plásticas, a música, o cinema. “A arte é um caldo de tudo o que somos.” Na visão do professor é que os livros possibilitam um novo olhar e a percepção sobre as coisas da vida, do que acontece ao nosso derredor. “O jornalista vê o mundo de uma maneira mais ampla, e mais rica quando ele tem a literatura ao seu lado”, afirma.

O Clube de Leitura tem o enfoque de somar na formação dos estudantes do curso de Jornalismo e ressaltar a importância da leitura e da literatura. Os alunos são estimulados a trazerem livros de interesse particular que ou estão lendo ou já leram, e se chegou a ler antes terá a oportunidade de comentar as suas impressões, os comentários que se têm daquela obra, a fim de gerar curiosidade e dinâmica na sala de aula. Os encontros não ficaram restritos apenas ao presencial, mas conta com uma sala virtual na plataforma Teams, onde os estudantes poderão ter maior liberdade de fazer as suas postagens.

Em entrevista à Agência Impressões, Henrique Almeida Chiarelli, estudante de Jornalismo da PUC Goiás e que cursa o sexto período, faz parte da turma do professor Rogério Borges, revela suas expectativas sobre o Clube. “É um ótimo incentivo para pessoas com pouco hábito de leitura, como eu, a lerem mais, o que é um grande acerto, na minha opinião.” Henrique conta que perdeu o exercício de ler com o tempo, mas quer voltar a tê-lo, porque é importante para qualquer profissional, principalmente para um jornalista.

Outra aluna, Victória Vieira da Silva, está no seu último ano do curso de Jornalismo, compondo a turma da professora Sabrina Moreira, comenta com entusiasmo a iniciativa da abertura do Clube de Leitura, pois a literatura faz parte da sua vida, quando era obcecada pela Turma da Mônica desde seus 5 ou 6 anos de idade. O gosto pelos livros veio mais tarde, com 15 anos, por influência de uma professora do ensino médio e que guarda em sua memória até hoje. Ao saber do projeto, ela afirma que disse para as suas amigas: “Meu Deus, que legal essa ideia!”, por ser um espaço de conversa e discussão, “Essa divergência de ideias que podem contribuir, agregar umas às outras. Por isso faz muito sentido e é muito importante”, acrescenta.

A aluna ainda comenta a relação que existe entre jornalismo e literatura, além de enfatizar que para fazer jornalismo precisa, necessariamente, ter o hábito de ler. “Como leitor, você sabe o que gosta de ler, o que não gosta, como você gosta do estilo da escrita, o que faz sentido e o que não faz, aquela persuasão que é preciso ter ou não. Ao ler podemos notar a forma que o autor quer repassar a história.” Ela também faz uma ligação com a estrutura e a condução de uma narrativa, pontos ligados por coerência e coesão de fatos, a ocorrência deles, o que vem antes e depois, ter a percepção do que pode ser relevante ou não. “O cuidado da apuração ao narrar a história com sentido lógico é, basicamente e literalmente, o jornalismo em si”, conclui Victoria.

O trabalho dos professores e das alunas que estão à frente do Clube de Leitura pode ter desafios. Larissa Oliveira, que também é advogada e graduada em Direito, explica como os professores podem atrair mais a atenção dos alunos a prática de ler. “O professor influencia muito, ele mesmo tem que gostar da literatura, gostar do livro e tentar passar numa linguagem mais clara para que os outros (estudantes) tenham curiosidade de ler.” Para a professora Sabrina, a leitura coletiva servirá como forma de trocar “ricas experiências a partir de autores, de períodos históricos e de ouvir o outro de maneira mais aprofundada, com o intuito de mais uma vez surtir curiosidade e interesse nos alunos, através dos debates que podem acontecer.”

“A respeito da sociedade, a forma que ela pode ser atraída para os livros consiste em mostrar ao público em geral que os enredos e personagens de ficção dialogam com a nossa humanidade”, afirma Sabrina. Já o professor Rogério Borges sugere que cada um busque a forma que mais agradar, seja no livro digital ou impresso, seja em conteúdos novos ou não, o que importa são as adequações necessárias para os dias de hoje e de fazer a literatura circular livremente. Para Henrique e Victoria, vídeos como trends e reels podem servir para instigar a pessoa a buscar por mais, saber sobre o livro comentado só por ver o tipo de formato que é usado atualmente, vídeos rápidos e persuasivos.

A leitura estimula a escrita, uma das principais habilidades que um jornalista deve saber usar. “Ler significa mais repertório, mais habilidade, não significa que escreverá “maravilhosamente bem, mas existe uma chance, uma possibilidade que isso aconteça”, sublinha o professor Rogério Borges. Ademais, a mestranda Carmem Lucia comenta que o contato com a literatura ensina a importância da voz autoral. “O leitor-escritor aprende a organizar ideias, manter o ritmo textual e transmitir emoções de forma eficaz. Assim, a literatura é uma escola contínua de escrita, oferecendo exemplos práticos e inspiração constante”, enfatiza.