Por Anna Karyn
Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mais de 10,3 milhões de mulheres são donas de negócios no país. Isso significa que, dentro do universo de proprietários de negócios, 34,4% são mulheres. No 2º trimestre de 2019, esse número chega próximo ao recorde de 34,8%. A inclusão de mais mulheres em cargos de chefia pode aumentar significantemente a economia brasileira, chegando em até um quarto, de acordo com a Organização Internacional de Trabalho (OIT).
Dentre as atividades com predomínio de mulheres na liderança estão os serviços bufê e comidas preparadas. Formada em pedagogia, a Angela Maria Almeida de Sousa viu a necessidade de mudar sua área de atuação devido à falta de oportunidades e começou seu próprio negócio. Hoje ela é dona do Nina Quitutes, empresa especializada em produção de salgados, bolos decorados e doces para eventos, pães e bolos caseiros. Ela, que já cozinhava para a família, enxergou uma forma de manter o sustento de casa e fazer algo que amava, cozinhar.
“Eu amo cozinhar, eu sempre fiz isso para minha família, com muito amor e passei a trabalhar nessa área. Acredito que esse seja um dos meus pontos positivos, pela a aceitação do público, porque eu faço com amor, tanto na área pedagógica quanto hoje na arte de cozinhar”. Ela conta que a nova profissão despertou após a organização da festa de 15 anos da filha mais velha. “Eu fiz toda a preparação dos salgados, bolos e doces, e a partir daí eu percebi que poderia trabalhar nessa área”, explica
Outra atividade que tem grande atuação de mulheres é o comércio de roupas. As empreendedoras Ana Cristina de Sousa, Natália Lima e Priscilla Alves resolveram se juntar para tirar uma ideia do papel e abrir a primeira empresa juntas, a marca de roupas feminina, NC.
“Eu sempre gostei de empreender. Já tinha feito uns cursos na área de empreendedorismo. Quando eu quis abrir a empresa, já estava com uns 20 anos e comecei com a Pri Jóias”. Priscilla conta que a empresa surgiu através de um trabalho para a faculdade, e na construção do seu TCC a ideia se intensificou. “Eu comecei a fazer um TCC sobre a empresa na faculdade e lá eu vi que tinha uma grande oportunidade. Eu já sabia que existia uma demanda na área de moda, mas foi legal ver que tinha demanda para os meus produtos.”
Ela também contou como era o mercado no seu início e como foi difícil ver que a participação de mulheres, principalmente na área industrial, era quase nula. “Quando você decide abrir um negócio sozinha é mais complexo, e no mercado, pelo menos de semi-jóias, quando eu iniciei, era praticamente 100% masculino e até hoje ainda é, não existia ‘donas’ de empresas.”
Priscilla ainda falou sobre como é ser uma mulher e empreendedora, os desafios de conciliar o profissional com o pessoal. “Quando a gente decide empreender, as outras coisas que a mulher faz, não deixa de fazer. A gente precisa ter muito equilíbrio emocional e psicológico para conseguir colocar cada coisa no seu lugar e saber qual é o ponto de mexer naquilo e qual é o ponto de parar, tem que ter essa noção”, explica.
Ana Cristina despertou para o empreendedorismo quando percebeu, ao atender empreendedores e empresas no banco em que trabalha, que poderia ser uma empreendedora também.
“Eu trabalho no banco e não me vejo seguindo carreira. Por atender empresas, eu percebi que tem tanta gente que faz tanta coisa, tem pessoas que a principal característica é simplesmente não ter desistido e essas elas começaram a me inspirar”. Ela conta que só decidiu começar a empreender por causa da parceria com Natália e Priscilla. “Quando você tem pessoas que confiam e que confia no trabalho, aí a gente voa”.
Já a Natália teve que mudar totalmente sua área de atuação. Formada em Pedagogia e com 5 anos de experiência na área, recebeu uma proposta de sua irmã durante a pandemia para integrar a equipe da Pri Jóias e desenvolveu sua vontade de empreender. Hoje, ela é COO da empresa Pri Jóias e uma das fundadoras da marca NC. Ela contou um pouco de como foi essa transição de profissão.
“Minha transição foi muito natural, porque eu tive um tempo, tive dois anos de pandemia para me adaptar. Como eu já estava muito saturada do meu serviço e apareceu essa oportunidade, no final de 2021 eu optei em sair e ficar 100% na empresa”. Natália ainda conta que nunca tinha pensado em empreender, mas que o desejo surgiu quando começou na Pri Jóias. “Nunca passou isso na minha cabeça, eu não tinha vontade de empreender, até eu trabalhar com a Priscilla e começar”.
Elas também falaram sobre suas inspirações. Nomes femininos como a da influenciadora Bianca Andrade, mais conhecida como Boca Rosa e Sabrina Nunes, foram citados. Ana Cristina ainda comentou que tem vontade de fazer palestras, contando a sua história e inspirando pessoas, assim como a Bianca.
Inspirada pela sua tia Edilene, que saiu do cargo de funcionária de uma empresa para dona do seu próprio negócio, a publicitária Nathânia Volpato contou um pouco como foi sair de uma parceria e abrir a sua empresa de Publicidade e Marketing Digital.
“O que me fez muito vir trabalhar para mim foi a questão da liberdade de tempo. Eu organizo o meu horário, não tenho aquele horário fixo e também de acordo com o que eu trabalho, é o que ganho. Por mais que as vezes é assustador, também é libertador, porque você sabe que se trabalhar, se esforçar, realmente vai ter um retorno daquilo que está fazendo ali”.
Nathânia ainda fala dos desafios que é empreender, como a visão romantizada de que ser o seu próprio chefe é fácil. “Eu acho que esse é o maior desafio, ter que colocar os seus limites, as suas metas. Quando você começa, começa sozinho. Ser o seu próprio chefe é um dos estigmas mais difíceis para quem começa a empreender”, explica. Hoje, muito se fala do empreendedorismo feminino. O Sebrae, visando o crescimento desse movimento, criou o programa “Sebrae Delas”, que oferece conteúdos, cursos, certificações e rede de relacionamentos para o networking. O intuito do programa é incentivar, valorizar e acelerar a jornada para aquelas que já empreendem ou querem empreender.