quarta-feira, 23 de outubro de 2024
Ponto de Vista

A melhor da semana

Crônica de Izabella Couto

A gente já acorda diferente. O final de uma coisa cansativa e o início de outra efêmera, mas maravilhosa: sábado e domingo inteirinhos pela frente. O pretérito perfeito do indicativo que arranca ao menos um sorrisinho no estilo canto de boca do ser mais apático: sextou, bebê! E o bom é se lembrar disso a cada perrengue no decorrer do dia: pelo menos hoje é sexta. Nem sempre com s de saudade, como os desiludidos amam colocar nos status de WhatsApp e stories do Instagram, que é para expor a sofrência de não estarem com o love.

Apesar de a sexta-feira ser carregada de energia boêmia, também nem todos têm grandes planos. É certo que a cervejinha é esperada por muitos e as baladas estão monstras porque, sexta é, oficialmente, o dia nacional da maldade e favorável para o rolê, pelas palavras de Dan Lelis. Mas às vezes o sujeito se alegra porque poder vai dormir até um pouco mais tarde no outro dia, ou porque o expediente de sábado acaba mais cedo, ou porque só quer ficar em casa maratonando série comendo baboseira mesmo.

O fato é que, tanto para os caseiros quanto para os que precisam bater ponto em algum estabelecimento na rua sexta-feira à noite, esse dia da semana tem seu valor, tem sabor e não é qualquer um, é único, é genuíno, tem saudade e muita, muita ternura. Ninguém quer ver a sexta de longe. Além do mais, por mais que você possa fazer as mesmas coisas no sábado, ele não é como a sexta. É que a sexta é prima do domingo, e o sábado é irmão, logo, fica mais perto, e a melancolia de domingo é certa porque depois é segunda e adivinha de quem a segunda está longe? Dela, da bendita.

Coisa interessante é essa empolgação toda advinda da sexta, e cada um tem uma percepção diferente sobre ela, um gosto com desgosto, algo quase doentio. Dia desses vi um homem no ponto de ônibus dizendo que não gostava de sexta-feira porque no outro dia ficava ressaqueado e a danada tinha ido embora. Ele falava como se tivesse sofrido uma desilusão amorosa, e de fato é, coitado, só que não é com gente e sim com um dia, aí fica difícil de argumentar.  

Se for para falar de minhas preferências, eu gosto dela e de todas as possibilidades que ela oferece. Gosto de levantar e sentir aquele gostinho, aquela certeza: é sexta! Pouco me interessa a forma como vou sextar, isso varia tanto, depende do humor. Não me importo se for 13, sexta é sexta e o azar é só de quem perdeu o brilho nos olhos ao se encontrar com ela.