quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
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“A lição é não desistir”

Alda mostrando as suas biojoias

A empreendedora Alda Assis superou relacionamento abusivo e alcançou independência financeira por meio do artesanato

Por Maísa Martins e Rodrigo Melo | Editores: Maísa Martins e Rodrigo Melo
Projeto Humanos em Goiânia

Alda mostrando as suas biojoias

“Eu saí de Jataí com 20 anos e mudei para Ribeirão Preto. Eu casei e fui morar lá. Aí eu tive um relacionamento de praticamente 30 anos e que não deu muito certo. Acabei ficando numa situação deplorável  por muito tempo. Fui levando a vida do jeito que estava, mesmo não gostando, porque eu não tinha emprego, não tinha nenhuma renda. Os filhos vieram e foi muito mais difícil. Eu não tinha voz nenhuma. Eu não tinha direito a nada, não podia fazer nada que eu queria, não tinha amizade. Fiquei naquela, como uma espécie de escrava. Ali eu não tinha dinheiro, não tinha a minha renda, não tinha trabalho. Eu era subordinada a ele. Então, dessa forma, eu fiquei quase 30 anos com esse tipo de vida, já não tinha mais autoestima, não tinha mais prazer com nada, nem de viver. Eu fiquei muito doente, estava tão cansada. Mas alguns amigos me ajudaram a perceber que minha vida estava em jogo. Aí, eu falei: agora é ele ou a minha vida. Eu estava muito, mas muito ruim mesmo e tinha muito medo, sabe? Aí resolvi separar”.

Fiquei naquela, como uma espécie de escrava. Ali eu não tinha dinheiro, não tinha renda, não tinha trabalho. Eu era subordinada a ele.

Alda em seu quintal

Empreendimento como superação

“Quando comecei a trabalhar, consegui espaço na feira [do Cerrado], mas ainda não tinha nada para trabalhar. Então, comecei a ir ao mercado pegar casca de côco para fazer brincos e colares. Eu não conhecia muito os materiais que poderia usar, nem onde buscá-los, mas fazia muito crochê na época, o que me ajudava bastante. Como eu não tinha material, usava muito a casca do côco, que hoje quase não uso. Mas foi aí que tudo começou a melhorar na minha vida. Eu tinha amigos da feira, amigos que faziam ciclismo e foi com o meu trabalho na feira, onde passei por essa transformação. Nas matas onde fazia ciclismo, eu achava muito material e trazia para casa. Foi assim que tudo começou a dar certo. Passei a viver tudo que eu via de bom e gostaria para mim. A minha criatividade ficou muito maior e tudo que eu vejo até hoje, quero testar e fazer minhas artes”.

 Passei a viver tudo que eu via de bom e gostaria para mim. A minha criatividade ficou muito maior e tudo que eu vejo, até hoje, quero testar e fazer minhas artes.

“Travessia” – projeto solidário

“Em 2017 comecei a pensar em ajudar mulheres em vulnerabilidade social. Eu queria ensinar tudo o que sabia, porque o mundo está cheio de pessoas que passam pelo mesmo problema que passei. Pensei que se eu ensinasse o que sabia, às vezes, seria mais fácil delas terem uma saída, ainda mais porque eu não tive uma saída. Eu tinha que passar por aquele processo todinho sozinha, de depender dos outros para tudo. Foi uma época muito dolorosa, principalmente por falar assim: ‘o que que eu vou fazer da minha vida? Eu não via saída’. Eu falo que se eu fizer isso [ajudar as pessoas], já vai ser uma luzinha no fim do túnel pra ela. Comecei a planejar o que eu tinha que fazer para ajudar, então participei de um edital do Sebrae e consegui fazer um projeto de capacitação de 30 mulheres. Eu escolhi um bairro da periferia para dar o curso. Não tinha só mulheres, tinha um senhor de 70 anos; tinha um outro de 30 e poucos, que também teve uma situação difícil, de morar na rua, de ser usuário. Foi a coisa mais linda que eu já fiz até hoje. Foi tudo muito lindo, muito bacana e muito proveitoso. O projeto se chama Travessia”.

 Foi a coisa mais linda que eu já fiz até hoje.

Sonhos

“Quero continuar ajudando as pessoas. Futuramente, quero montar uma escola de artes e uma loja. Uma loja com as peças e quero uma escola ali junto, onde eu também possa ajudar essa turminha adolescente. No projeto Travessia pude ajudar muitas pessoas que precisavam de uma renda extra, como mulheres que sustentam a casa e mulheres que não querem sair para trabalhar fora. Mesmo que minha ajuda seja uma gotinha no oceano, acho que vale a pena”.

[Quero abrir] uma loja com as peças e uma escola ali junto, onde eu também possa ajudar essa turminha adolescente.