Por Abraão Passos, Luanna Mendes e Rebeca Oliveira
De 2000 a 2010, víamos uma hegemonia dos artistas “padrões” no cenário do pop internacional, em sua maioria, brancos, héteros e americanos. Dominavam a indústria nomes como Madonna, Britney Spears, Justin Bieber, Taylor Swift, etc. Todos com características muito semelhantes. Poucos artistas fugiam desse padrão e não havia espaço e nem oportunidades para mudança.
Porém, uma artista se destaca durante o período de renovação e inclusão da indústria: Beyoncé. Em seu principal trabalho, o álbum Lemonade, Beyoncé exaltou sua negritude e seus antepassados, entregando letras profundas, vocais perfeitos e visuais dignos de Oscar. Foi alvo de grandes críticas por parte de americanos conservadores, o que não a impediu de tornar o álbum superpremiado e de sucesso no mundo inteiro.
Através dela, foi possível ver outras pessoas pretas no topo e a indústria abriu portas também para a comunidade LGBTQIA+, que sempre foi muito apoiada pela cantora.
“Sua homossexualidade é linda, sua negritude é linda, sua compaixão, seu entendimento, sua luta por pessoas que podem ser diferentes de você são lindos.”, disse a cantora durante a cerimônia de formatura virtual “Dear Class of 2020”, que aconteceu no final de 2020, como forma de homenagear todos os alunos que se formaram do ensino médio naquele ano e não puderam ter suas festas devido à pandemia.
Ela se consolidou na carreira e é considerada uma das maiores artistas de todos os tempos. Sua luta por direitos iguais ainda continua. Mesmo tendo tamanha fama, ainda sofre racismo e misoginia dentro da indústria da música. Com seu último trabalho, o álbum Renaissance, ela se tornou a artista mais premiada do Grammy, consagrando seu legado no gênero pop.
Por dentro do cenário pop nacional
No Brasil, também é possível perceber que os artistas do pop buscam abordar inúmeras questões sociais relevantes como diversidade racial e igualdade de gênero. Além disso, o pop nacional atua como um espelho da sociedade, refletindo os valores, crenças e mudanças em andamento.
Ao longo dos seus 13 anos de carreira, Ludmilla se tornou um grande exemplo de representatividade para pessoas pretas e LGBTQIA+. Ela, que no início da carreira levou a sua arte para diversos bairros das comunidades, hoje tem um reconhecimento enorme e segue quebrando recordes.
A cantora é a primeira mulher preta da América Latina a bater 1 bilhão de reproduções no Spotify Latino. O sucesso da artista vem tomando uma proporção tão grande, que, até fora do pop ela vem sendo reconhecida.
Ludmilla ganhou seu primeiro Grammy Latino com o projeto “Numanice 2”, o qual foi escolhido como o Melhor Álbum de Samba/Pagode do ano. Com este feito, ela provou ser uma das artistas mais versáteis de sua geração.
Enquanto isso, do outro lado do mundo…
Não é mais novidade que o K-Pop (sigla para Korean Pop) conquistou seu espaço pelo mundo inteiro. Apesar do nome, o gênero engloba diversos outros e a música não é apresentada exclusivamente por coreanos, mas também por asiáticos de outras nacionalidades, como é o caso do grupo NCT, composto por coreanos, japoneses, chineses, tailandeses, americanos e canadenses, que juntos somam 26 membros. Parece gente demais, né? E é mesmo. O grupo possui uma formação complexa, mas interessante.
O gênero surgiu em 1992 com o trio Seo Taiji & Boys, formado por Seo Tai-ji, Lee Ju-no e Yang Hyun-suk, revolucionando completamente a indústria musical da Coreia do Sul. Após o fim do grupo apenas 4 anos depois de sua estreia, Yang Hyun-suk fundou a YG Entertainment, atualmente uma das maiores e mais conhecidas empresas de entretenimento sul-coreanas – o Blackpink, composto pelas estrelas mundiais Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa, é um de seus grupos gerenciados.
A popularização do K-Pop pelo mundo se deu a partir de 2010, época em que o conceito de boyband já era bem conhecido por causa dos Beatles, Backstreet Boys, ‘N Sync etc. Porém, o estilo vindo da Coreia do Sul chamou atenção com seus diferenciais: grupos com vários membros que dançam coreografias complexas de forma sincronizada enquanto vestem roupas estilosas e chamativas, ao som de músicas que soam diferente de qualquer outra coisa já ouvida antes.
O estilo coreano veio para quebrar barreiras linguísticas e mostrar assim como o Pop de Beyoncé e Ludmilla que música boa não é produzida apenas por pessoas brancas do ocidente. Uma vez que você retira o cabresto implantado pelos Estados Unidos, é possível descobrir novos mundos com culturas ricas a serem apreciadas – essa é uma das principais críticas do K-Pop, além de músicas que incentivam ao amor próprio, à quebra de preconceitos e que também falam sobre a dura batalha para se manter uma boa saúde mental em meio a sociedades tão egoístas.
Outro diferencial do K-Pop pode ser percebido através da relação que as empresas sutilmente exigem que os artistas tenham com seus fãs. Além das músicas, são produzidos milhares de conteúdos diariamente, onde os idols (termo que define um artista de K-Pop) mostram suas rotinas e revelam mais de suas personalidades, o que acaba criando uma sensação de proximidade e de que o fã conhece mais seu artista, como se, além da relação de fã-artista, existisse uma amizade. Nessa relação parassocial, muitas pessoas encontram um conforto, uma forma de escapar de sua vida real cheia de problemas e responsabilidades.
Infelizmente, ainda há um preconceito enorme sobre quem pode consumir o estilo musical. Pessoas adultas, principalmente mulheres, são duramente julgadas por também serem fãs do gênero – o que não faz sentido, pois não existe um limite de idade para ser fã de algo. Ainda mais no caso de músicas que realmente possuem um lado mais maduro, o mais adequado é que tenha um limite mínimo de idade e não máximo, como já acontece em músicas listadas como explícitas. Porém, no fim do dia, o K-Pop é para todos, sem exceções, sempre haverá músicas para todos os públicos.
Na música “I Don’t Understand But I Luv You” do grupo Seventeen, eles destacam que, apesar das diferentes línguas e fuso-horários, palavras não são necessárias para que o amor e outros sentimentos bons sejam transmitidos, e que essa troca de sentimentos sem a necessidade de palavras entre o fã-artista pode levar à quebra de barreiras e preconceitos!