sábado, 19 de abril de 2025
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A era dos coaches de emagrecimento

Dietas milagrosas nas redes sociais prometem perda de peso rápida e conquista do corpo perfeito

Reprodução: Página Seca Você no Instagram

Por Núbia Nunes (aluna da disciplina Produção e Redação de Reportagem sob supervisão da professora Gabriella Luccianni)*.

O Brasil é o terceiro país que mais consome conteúdo nas mídias sociais. De acordo com a Cosmscore, empresa conhecida pela análise de dados e tendências digitais, 131,5 milhões de brasileiros lideram o ranking da América Latina. Instagram, Facebook e YouTube estão entre as plataformas mais utilizadas. Os conteúdos vistos são diversos, dentre eles, sobre a alimentação. Vídeos de receitas e até mesmo dietas encantam o público.

Influenciadores digitais compartilham rotinas e dicas de refeições para manter a saúde. O físico estético chama a atenção dos internautas, principalmente de pessoas do mundo fitness. Suplementações e protocolos alimentares são indicados por digitais influencers, que geralmente comentam a respeito dos produtos sem o devido aprofundamento no assunto.

Em uma amostra de 92 pessoas com 54,35% do público feminino, 45,65% de todos os entrevistados já consumiram suplementos por influência das redes sociais. Os dados são da pesquisa “Influência das Mídias Sociais nos Hábitos Alimentares de Praticantes de Musculação”, da Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento (RBONE), publicada em março.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alerta que o uso de suplementos acima da quantidade limite de segurança pode gerar riscos à saúde. Segundo a nutricionista Rochelle Assis, especializada em comportamento e transtornos alimentares, a busca por refeições saudáveis em um contexto de pressão estética está em todo lugar e marca forte presença nas redes sociais. Essa influência pode ser negativa dependendo do indivíduo que recebe a informação.

A prescrição de dietas que prometem perda de gordura rápida e o corpo perfeito contribui para a estereotipação da magreza. Vale tudo para atingir o peso desejado, inclusive alimentações restritivas: dieta da sopa; detox, low carb e até mesmo sem glúten e carboidratos.

“Eu até tentei fazer aquela dieta do ovo, mas cada organismo responde de um jeito. O meu respondeu ruim, porque senti fraqueza e não consegui treinar. Então, eu não aconselho essas dietas, pois uns conseguem e outros não”, afirmou Priscilla Karen, 31, mãe e dona de casa, ao tentar seguir a dica de alimentação sem comprovação científica, baseada na ingestão de ovos nas refeições principais para a diminuição de calorias.

Instrutores veem no sonho do corpo perfeito dos usuários a oportunidade de produzir conteúdo na internet e de vender cursos. Maíra Cardi, empresária e coach de emagrecimento divide opiniões a respeito da mentoria Seca Você, que promete risco zero de não emagrecer e a devolução do valor pago mais R$ 10 mil, caso a cliente não obtenha a redução de medidas. O consumo de verduras, legumes, vegetais, frutas e proteínas é priorizado, enquanto há restrição de açúcares e carboidratos.

Fotos de antes e depois dos resultados são publicadas no perfil do Instagram da influenciadora, que não é habilitada em Nutrição no Brasil. Cardi realizou cursos técnicos, como de Nutrição Esportiva, Personal e Aerobics, Health Coach, Master Trainer nos Estados Unidos e afirma que 800 mil mulheres já foram transformadas em poucas semanas.

Em abril de 2017, o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), em Brasília, publicou no site oficial uma nota de esclarecimento relatando que a ex-BBB não é nutricionista e nem pode exercer a profissão em território brasileiro. O pronunciamento do órgão aconteceu após a denúncia feita por clientes ao perceberem que a coach passava a mesma dieta para pessoas com objetivos diferentes.

“Não é possível confiar nesses protocolos alimentares, porque geralmente essas dietas famosas oferecem perda de peso rápida e isso é prejudicial para a nossa saúde. Quando emagrecemos devemos perder gordura corporal e não massa magra”, ressaltou a nutricionista Geovana Moura.

O lado belo das redes sociais

Júlia Genezini, 22, compartilha com os seguidores do TikTok o dia a dia. Hábitos saudáveis são o destaque. Porém, nem sempre foi assim. Em 2023, a jovem repercutiu com a rotina peculiar: frutinha gelada – como intitula o cigarro eletrônico em seus vídeos – pela manhã, macarrão instantâneo no almoço e muitas outras dicas que a longo prazo geram complicações à saúde.

Genezini, que é atriz, por meio da encenação faz críticas a influenciadores, adotando o nome irônico Mal Influencer, em sua rede social. Mas, infelizmente, uma parcela dos internautas não compreendeu a sátira, levando os vídeos ao pé da letra. Uma adolescente de 13 anos referiu-se a Júlia como inspiração de vida, comenta na internet.

A mudança do tipo de conteúdo da Mal Influencer e de outras pessoas que trabalham com o digital também é consequência da expansão de um novo mercado, o autocuidado. A qualidade de vida física e mental são prioridades. De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), as franquias na área da saúde, beleza e bem-estar foram uma das que mais se destacaram no quarto trimestre de 2022, com o lucro de 21,5% maior, um total de R$ 47.362 bilhões, em comparação com o mesmo período em 2021.

Devido ao interesse em saber mais sobre o mundo saudável, profissionais ganham espaço na internet e impactam positivamente. A recepcionista Idelma Galliêta relata que tem preferência em seguir especialistas da área da alimentação, principalmente nutricionistas de sua cidade natal, Goiás.

“Vemos profissionais capacitados falando de uma nutrição leve e saborosa”, explica Geovana Moura a respeito de conteúdos na internet de pessoas formadas em Nutrição.

Moura também recomenda aos usuários de redes sociais a consulta a bases de estudos para a expansão do conhecimento, como a PUbMed, plataforma da Biblioteca Nacional dos Estados Unidos, e SciELO (Scientific Electronic Library Online), ambas com acesso gratuito a artigos e revistas científicas.

*O conteúdo produzido e publicado no Impressões é resultado de um processo de aprendizado pedagógico dos estudantes do curso de Jornalismo da PUC Goiás.