quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
InicialReportagens

“A cota de gênero tira a voz da mulher”

Maria Angélica Olinto questiona se cotas de gênero na legislação eleitoral brasileira são inclusivas ou apenas facilitadoras de fraudes

Maria Angélica Olinto, egressa da PUC Goiás, palestrando sobre cotas de gênero na legislação eleitoral brasileira. Foto: João Victor Galvão.

Por João Victor Galvão, Luanna Mendes e Rebeca Oliveira.

O terceiro dia do Congresso de Ciência, Tecnologia e Inovação da PUC Goiás (16/10) foi repleto de atividades. O Câmpus V da universidade contou com a presença da egressa Maria Angélica Olinto, que ministrou palestra sobre as cotas de gênero na legislação eleitoral.

Palestrante de Direito Eleitoral e Constitucional, Maria Angélica expôs os principais pontos da discussão sobre o tema “Cotas de gênero na Legislação Eleitoral: Inclusão ou Fraude?”, trabalhada em seu TCC, utilizando como exemplo as eleições municipais de 2024 e abrindo espaço para debate com os presentes no evento.

A egressa destacou que, ao mesmo tempo que as cotas são importantes para a inserção feminina no Legislativo, estas também abrem inúmeras brechas para fraudes eleitorais e descredibilização da mulher.

“A cota de gênero veio como um mecanismo de trazer esperança para a mulher entrar no parlamento, para ela ter voz. […] Infelizmente, de forma contraditória, as mulheres vêm sendo caladas por causa da cota, que tem sido usada na maioria das vezes como candidatura laranja, apenas para atingir a porcentagem de mulheres necessárias no partido”, disse Maria.

Nas eleições municipais de 2024 em Goiás, apenas 35 mulheres foram eleitas prefeitas e 362 foram eleitas vereadoras, sendo este último o menor número de vereadoras eleitas da região Centro-Oeste. As mulheres ainda são minoria na representatividade política, apesar de constituírem a maioria do eleitorado brasileiro.

De acordo com a palestrante, um machismo muito forte ainda está presente na sociedade. As pessoas não se interessam em eventos nos quais o foco é a mulher, não gostam de ver mulheres na liderança. A palestra realizada na manhã de quarta-feira (16/10), apesar de constar no sistema do Congresso como lotada, teve poucos participantes.

“Nesse tema em particular, o debate ganha uma importância maior, porque eu entendo que nós temos uma sociedade muito desigual nas disputas eleitorais. É mais provável que um homem branco seja eleito do que uma mulher negra, né? Então, o debate é importante e a forma como ele foi feito também. Foi bastante produtivo, nós tivemos um grande tempo para que as pessoas pudessem expor suas ideias e pensamentos”, refletiu João Valverde, professor de Direito da PUC Goiás.