sábado, 14 de junho de 2025
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Documentário resgata a história do bairro Dom Fernando Corrêa

Apresentação de João Carlos Oliveira Corrêa investiga as origens do bairro fundado por ocupações urbanas nos anos 1980 e os impactos sociais da luta por moradia na periferia da capital goiana

João Carlos, aluno que ira apresentar o TCC.

Por: Sara Soares

Supervisão: Profª Gabriella Luccianni.

Amanhã (11/6), às 7h15, na sala 208 B, o estudante João Carlos Oliveira Corrêa apresenta seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), orientado pela professora Déborah Rodrigues Borges, com um tema que atravessa passado e presente: a história e fundação do bairro Dom Fernando Corrêa, em Goiânia. O trabalho analisa como ocupações urbanas deram origem a esse território e quais foram os impactos sociais dessa construção coletiva ao longo de mais de quatro décadas.

A escolha do bairro como objeto central da pesquisa foi motivada, segundo João Carlos, por razões pessoais, acadêmicas e sociais. “Trata-se de um território historicamente marginalizado, que nasceu de um processo de ocupação urbana nos anos 1980. É uma história viva que pulsa nas periferias e que precisa ser contada pelos próprios moradores”, explica. Para ele, o Dom Fernando Corrêa sintetiza resistência popular, urbanização desigual e laços comunitários profundos.

A pesquisa revela que o bairro surgiu em um contexto de forte desigualdade no acesso à moradia, em que famílias organizadas ocuparam terrenos para garantir o direito de viver na cidade. Essa ocupação forçou a expansão da malha urbana e a presença de serviços básicos, transformando a paisagem física e social da região leste de Goiânia. “É um exemplo concreto de como a ação popular pode interferir na estrutura da cidade, mesmo que de forma não planejada”, analisa.

Imagem do bairro Dom Fernando Corrêa nos anos 90.

Entre os personagens centrais resgatados pelo trabalho está Queiroz, liderança comunitária que teve papel decisivo na fundação do bairro. Atuando como articulador político e social, ele organizou moradores, negociou com autoridades e enfrentou ameaças de remoção. “Sem figuras como ele, muitos bairros como o Dom Fernando sequer teriam se consolidado”, afirma João.

Um dos maiores desafios enfrentados na pesquisa foi a escassez de registros oficiais. Para superar essa lacuna, o estudante buscou fontes alternativas, como entrevistas com moradores antigos, documentos pessoais e recortes de jornais locais. “As memórias conflitantes também exigiram uma escuta atenta e respeitosa, para garantir que as diferentes versões fossem compreendidas e respeitadas”, conta.

O estudo mostra que o bairro passou por mudanças significativas desde sua fundação: da precariedade inicial com barracos improvisados à conquista de moradias de alvenaria, escolas, unidades de saúde e ruas pavimentadas. No entanto, ainda persiste a falta de transporte adequado, infraestrutura urbana e políticas culturais. “Apesar das conquistas, as desigualdades não desapareceram. A luta agora é por reconhecimento e inclusão”, diz João Carlos.

As ocupações urbanas são retratadas no trabalho como atos políticos que não só garantiram acesso à terra, mas também forjaram um senso de comunidade baseado na solidariedade e no engajamento social. A pressão sobre o poder público e a criação de uma rede de apoio entre bairros populares foram alguns dos frutos desse processo. “O bairro não teria se consolidado sem essa organização popular”, destaca.

A participação da comunidade foi essencial para a construção do trabalho. Moradores cederam relatos, fotos e documentos, oferecendo ao estudante não apenas informações, mas histórias emocionantes e camadas invisíveis da realidade local. “Esses encontros revelaram uma dimensão afetiva que vai além dos dados. Sem eles, o TCC não teria alma nem verdade”, afirma.

Entre os impactos sociais mais profundos identificados no estudo estão o fortalecimento da identidade comunitária e o legado de luta por direitos sociais. Apesar do estigma e da precariedade ainda presentes, João Carlos ressalta a força simbólica do bairro. “É a reescrita da história da cidade a partir das margens. Os moradores do Dom Fernando mostram que também constroem Goiânia todos os dias, com resistência e dignidade.”