Por Débora Ferreira
Com supervisão da Professora Gabriella Luccianni
A estudante de Jornalismo Gabriella Serrano encerra sua graduação com um projeto que parte de um lugar íntimo e se desdobra em uma potente escuta coletiva. “Caminhada solo: histórias e vivências de mães que caminham sozinhas” é o nome da reportagem longform produzida como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que dá visibilidade a um grupo de mulheres cujas vozes muitas vezes permanecem à margem do debate público.
Mesmo não sendo mãe, Gabriella cresceu cercada por figuras maternas que criaram filhos sozinhas e foi justamente dessa vivência que nasceu o impulso inicial da pesquisa. A motivação pessoal, porém, não impediu o rigor metodológico nem a clareza do objetivo: informar, sensibilizar e escutar. Para isso, a autora entrevistou 10 mulheres que vivenciam a maternidade solo sob diferentes contextos e desafios. As conversas, em média com 40 minutos de duração, foram conduzidas com o cuidado de quem entende que o jornalismo não se faz apenas com perguntas bem formuladas, mas também com silêncio, empatia e presença.
Inspirada na concepção da entrevista como “diálogo possível”, proposta pela pesquisadora Cremilda Medina, Gabriella buscou criar um ambiente de escuta horizontal, em que as fontes se sentissem seguras para compartilhar suas experiências. “Essa abordagem foi essencial para que as mulheres se sentissem acolhidas e à vontade para compartilhar suas vivências com profundidade”, lembra.
O projeto também enfrentou obstáculos comuns à produção acadêmica e jornalística: dificuldade para encontrar dados atualizados – o levantamento mais recente é da Fundação Getúlio Vargas, de 2022 – entrevistas desmarcadas em cima da hora, limitações técnicas no desenvolvimento do site e sobrecarga entre estágio, faculdade e TCC.
Ao longo do processo, Gabriella também experimentou mudanças subjetivas: aprendeu a organizar melhor o tempo, a respeitar seus próprios limites e a confiar mais na força da escuta como ferramenta de construção de narrativas. “Percebi que ouvir com atenção transforma a maneira como a gente escreve, apura e se conecta com o outro. Entendi que o jornalismo pode e deve ser uma ferramenta de escuta, acolhimento e transformação”, reflete.
A reportagem, disponível em formato multimídia, foi pensada para explorar as potencialidades do digital. Textos, áudios e vídeos se entrelaçam para oferecer uma experiência imersiva ao público, algo que, para a autora, é essencial quando o objetivo é aprofundar temas que envolvem afeto, dor, resistência e amor.
Com orientação da professora Carol Goos e banca composta por Gabriella Luccianni e Sabrina Moreira, o trabalho será apresentado no dia 9 de junho, às 9h, na sala 207B. Apesar de concluir o ciclo da graduação, Gabriella enxerga a produção como um ponto de partida. “O que eu mais desejo com esse trabalho é que ele alcance quem precisa escutar essas histórias. Seja para refletir, para aprender ou até para transformar realidades. Mais do que uma prática técnica, o jornalismo, para mim, é uma atividade intelectual e socialmente comprometida. Ele tem o poder de promover escuta, empatia e denúncia.”
Mais do que uma peça técnica ou acadêmica, “Caminhada solo: histórias e vivências de mães que caminham sozinhas” se posiciona como um gesto de escuta e reconhecimento. Uma tentativa de, por meio do jornalismo, valorizar as múltiplas maternidades que existem neste país e lembrar que nenhuma mulher deveria precisar caminhar sozinha.
