sábado, 24 de maio de 2025
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Ultraprocessados e qualidade do sono: qual é a relação entre eles?  

Vilões da alimentação nutricional equilibrada, fasts foods também prejudicam o sono

Foto: Nutricionista Raphaela Ricioli. Arquivo Pessoal.

Por: Emanuella Messias

Supervisão: Professores Antônio Carlos Cunha e Gabriella Luccianni

De acordo com o livro “Gente Ultraprocessada – Por que Comemos Coisas que Não São Comida, e Por Que Não Conseguimos Parar de Comê-las”, do escritor e infectologista britânico, Chris van Tulleken, a indústria alimentícia e a indústria do tabaco são a mesma coisa. Apesar de conhecermos os efeitos do consumo de alimentos ultraprocessados, eles estão presentes no dia a dia de qualquer pessoa.

Para tratar do assunto de forma aprofundada, a nutricionista Clínica e Esportiva, Raphaela Ricioli, comenta temas como as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) causadas pelos ultraprocessados, os ingredientes que os compõem e, principalmente, a associação desse tipo de alimentação com a saúde do sono, especialmente em adolescentes.

Agência Impressões: De forma geral, de que maneira o consumo de alimentos ultraprocessados faz mal à saúde?

Raphaela Ricioli: Os alimentos ultraprocessados são ricos em aditivos químicos, gorduras ruins, como o açúcar e o sal. Em contrapartida, são pobres em vitaminas, minerais e fibras. O consumo frequente desses alimentos pode causar inflamações no corpo, desregular a flora intestinal, aumentar os riscos de doenças, como obesidade, diabetes do tipo 2, hipertensão arterial e, em alguns casos, até depressão. Além de serem aqueles famosos tipos de alimentos ricos em calorias vazias, são calóricos, pouco nutritivos e prejudicam a saúde ao longo dos anos.

Agência Impressões: É mais comum que adolescentes tenham esse tipo de alimentação?

Raphaela Ricioli: Sim, infelizmente, diante da nossa realidade, é mais comum. Por terem elementos mais chamativos, de serem gostosos e terem mais sabor, como falamos antes, dos açúcares e da gordura. O consumo também é por consequência da rotina de todos da casa, são alimentos que, na maioria das vezes, podem ser mais baratos, mais práticos, tanto para carregar quanto para se ter em casa, então fica até mais viável para os pais terem esses alimentos não só por meio das compras no mercado, mas pela ida à fast foods que são mais rápidos.

Agência Impressões: Os componentes presentes nos alimentos ultraprocessados influenciam na qualidade do sono? 

Raphaela Ricioli: De todos aqueles ingredientes que foram comentados no início, os aditivos usados nos alimentos ultraprocessados podem atrapalhar no funcionamento do sistema nervoso. O excesso de açúcar pode deixar o corpo num estado mais de alerta, dificulta o relaxamento na hora de dormir, atrapalha na questão hormonal, o que é bem relevante por se tratar do cortisol, da insulina, porque nossos órgãos terão que trabalhar cada vez mais para conseguir essa produção de melatonina, que fica mais baixa. O cortisol é o hormônio do estresse, o que gera um ciclo vicioso, pois o adolescente não consegue dormir. A qualidade do sono dele vai caindo e o cortisol vai aumentando, por isso ele fica mais estressado. Envolve outros fatores associados a essa questão, resultando num mau humor, irritação, mais acúmulo de gordura na região abdominal também, disposição para o dia. Afeta diretamente no cérebro, o cognitivo e pode cair o rendimento nos estudos; de forma geral, impacta bastante.

Agência Impressões: As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como obesidade, diabete, etc, podem influenciar no sono?

Raphaela Ricioli: Sim, com certeza. Essas doenças crônicas alteram o funcionamento normal do organismo. Por exemplo, a obesidade, no adolescente, pode ter uma apneia do sono, promovendo o ronco, o que pode ser ruim e afeta diretamente na qualidade do sono. A diabete, que causa alterações nos níveis do açúcar no sangue, pode provocar ou uma insônia ou, talvez, um sono mais agitado, mais conturbado. Então, todas essas condições vão alterar na função hormonal, inflamam mais o corpo e influenciam, claro, na qualidade do sono. É um ‘efeito cascata’, um depende do outro.

Agência Impressões: O uso das telas também influencia na hora de dormir. Existe alguma possível relação de um tipo de alimentação estimular a vontade de acessá-las?

Raphaela Ricioli: O consumo desses alimentos, principalmente, ricos em açúcar, causa no corpo picos de dopamina, um neurotransmissor ligado à sensação de prazer, de recompensa. E isso também acontece quando usamos as redes sociais. Vemos coisas que gostamos, num estado relaxado. Outro fator seria o consumo de cafeína que o adolescente, às vezes, consome muito para conseguir estudar, mas pode atrapalhar na hora de dormir e deixá-lo mais agitado. Em vista disso, é super pertinente fazer a higiene do sono, quanto mais longe das telas e mais cedo possível o corpo se acostumar com o quarto escuro, facilita a produção de melatonina e ajuda a ter uma noite de sono melhor.

Agência Impressões: Qual alimentação seria “ideal” para um sono de qualidade ou quais atividades podem ser feitas para ajudar nisso?

Raphaela Ricioli: Primeiramente, para ter um sono de qualidade, o ideal, na minha opinião, seria uma alimentação mais equilibrada, mais saudável, evitando, o máximo possível, alimentos ultraprocessados, optando por mais verduras, legumes, grãos, proteínas magras, alimentos ricos em triptofano, como banana, ovos, algumas castanhas, aveia etc. Esse aminoácido, o triptofano, ajuda na produção de melatonina e serotonina, dando sensação de relaxamento e bem-estar, influenciando, realmente, numa qualidade de sono. Outro fator seria uma questão de rotina, fazer exercícios, consumir uma boa ingestão de água durante o dia, evitar refeições muito pesadas antes de dormir e depois fazer um intervalo de, pelo menos, 2 horas após o jantar, reduzir o uso das telas à noite. Sobre os exercícios físicos, ajuda como um todo, na saúde mental, te deixa aliviado, menos ansioso. E, por fim, é uma construção de um estilo saudável, uma rotina que vai influenciar nessa melhora na qualidade do sono.