quarta-feira, 23 de outubro de 2024
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Presidente da Abraji destaca papel do jornalismo investigativo no combate à desinformação

Katia Brembatti, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)

Por: Débora Ferreira, Emanuella Messias e Emilly Matos

 “Eu acredito que podemos virar o jogo, uma das coisas para isso acontecer consiste na produção de um bom jornalismo.”  Essa declaração é da presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Katia Cilene Brembatti, que, no dia 26 de abril, será uma das expositoras da mesa “Jornalismo Investigativo como estratégia contra a desinformação”, no 23º Encontro Nacional de Ensino de Jornalismo da Abej.

Jornalista formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e especialista em Gestão Ambiental pela Universidade Positivo, Brembatti tem grande experiência no tema. Por 16 anos, foi repórter do jornal Gazeta do Povo, com enfoque em jornalismo investigativo nas áreas de política, judiciário e meio ambiente e atualmente é editora no Estadão Verifica, do jornal O Estado de São Paulo. Nesta entrevista concedida à Agência Impressões, a jornalista, que também é professora na Universidade Positivo desde 2013, aborda a relação entre educação midiática, jornalismo investigativo e combate à desinformação.

Impressões: Qual é o papel da pesquisa e apuração aprofundadas, características do jornalismo investigativo, no combate à desinformação?

Kátia Brembatti: Apuração e pesquisa são a base do jornalismo, não se faz nenhum tipo de jornalismo sem isso, principalmente no jornalismo investigativo, que é mais aprofundado. No caso da checagem, do combate à desinformação, é como se fosse uma apuração posterior. Quando você faz jornalismo clássico, convencional, você apura antes e publica. No caso da checagem, você recebe um conteúdo e apura. Desse modo inverte-se a lógica, mas as técnicas são semelhantes e muitas vezes a checagem não é tão aprofundada no dia a dia, porque regularmente o boato e a mentira são tão óbvios, bobos ou irreais que não precisam de um processo muito detalhado. No entanto, existem checagens feitas com níveis de apuração semelhantes ao jornalismo investigativo. Eu me lembro, por exemplo, de situações envolvendo massacres na África, onde foi necessário analisar o ponto em que o sol se encontrava no vídeo para conseguir determinar em qual lugar aconteceu para dizer que não, não tinha sido aquilo que estava se dizendo que era. Então, a apuração liga muito com o jornalismo investigativo contra o combate à desinformação, só que por perspectivas diferentes.

Impressões: Sabemos que o jornalismo investigativo é essencial no combate à desinformação. Porém, nos últimos cinco anos, presenciamos uma campanha de descredibilização da imprensa brasileira por parte das autoridades, especialmente do Governo Federal. O que pode ser feito para modificar essa realidade?

Kátia Brembatti: Esse processo de reversão da descredibilização intencional que foi feita com a imprensa é um processo que vai levar bastante tempo, pois ocasionou efeitos catastróficos, drásticos e que não são revertidos facilmente. Mas eu acredito que podemos virar o jogo, uma das coisas para isso acontecer consiste na produção de um bom jornalismo, para mostrar às pessoas que esse trabalho tem importância na vida delas. Exemplos de um bom jornalismo é o investigativo, aprofundado, que muda a realidade, jornalismo de serviço, de soluções, e no combate à desinformação, isso é essencial. Porque, quando falamos, por exemplo, do perigo em tomar alguns tipos de medicamentos, de produtos até de limpeza, para combater doenças, contribuímos para que não aconteça nenhuma tragédia. Além de falarmos que o conteúdo das redes sociais não é tão confiável e, isso sim, deveria ser desacreditado e não a imprensa.

Impressões: Qual é a relação entre educação midiática, jornalismo investigativo e combate à desinformação?

Kátia Brembatti: Existem medidas de curto prazo, assim como medidas de médio e longo prazo. A educação midiática é uma medida de médio a longo prazo, porém é uma abordagem que efetivamente soluciona problemas. Ela atua na causa raiz das questões e é capaz de promover mudanças ao longo de gerações. Nós, da imprensa, acreditamos firmemente na importância de comunicar não apenas o que fazemos e como fazemos, mas também em explicar o porquê. É essencial que uma parte significativa da sociedade compreenda o papel da imprensa e a razão pela qual realizamos nosso trabalho. Acreditamos que a educação midiática desempenha um papel fundamental nisso, pois destaca a importância do jornalismo em geral, incluindo o jornalismo investigativo e evidencia a necessidade de técnicas especializadas para combater a desinformação.