quarta-feira, 23 de outubro de 2024
InicialObservatório de Mídia

“O papel do jornalista é cada vez mais desafiador”

Professora Andréa Pereira dos Santos integra o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFG
Profª Drª Andréa Pereira dos Santos

Profª Drª Andréa Pereira dos Santos

Uma das debatedoras do Seminário do Observatório de Mídia da PUC Goiás, em 8 de abril, às 19h, no canal da PUC no YouTube, dentro do Circuito Ciência em Casa da instituição, a professora Andréa Pereira dos Santos, que integra o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG) conversou com a Agência Impressões sobre a importância de se averiguar as notícias que nos chegam todos os dias, para nos certificarmos sobre sua veracidade. Ela também comenta sobre o papel fundamental da formação do profissional do Jornalismo nesta luta contra a desinformação.

Impressões – Atualmente estamos vivendo um período de questionamento à imprensa. Isso está fazendo com que muitos migrem para sites não confiáveis, principalmente por motivos políticos. É possível a nova geração de jornalistas recuperar esta confiança?

Andréa – Apesar de eu não ser jornalista, mas pela minha experiência, e como eu já orientei alguns alunos do jornalismo também e por estar no Programa de Pós-Graduação do de Comunicação da UFG, acho que eu posso falar um pouquinho o que eu penso sobre esta primeira questão. Primeira questão: acredito que um dos principais problemas que a gente teve – que acho que foi um problema ruim para a profissão do jornalista – foi a perda da obrigatoriedade do diploma. Eu acho que isso foi um dos primeiros pontos que prejudica muito as profissionais, os profissionais desta área. Porque me parece que qualquer pessoa poderia ser, pode ser jornalista. Então eu acho que essa perda da obrigatoriedade do diploma não é legal e você acaba colocando no mercado outras pessoas que não têm as competências necessárias. E quando eu falo competências, falo inclusive as competências críticas que um jornalista tem formadas pela universidade. Uma das consequências é levar a essa busca por informações em outros sites não confiáveis que dizem ser feitos por jornalistas. Muitas vezes até podem ser feitos por pessoas formadas, mas estas pessoas, que se dizem tão jornalistas, em sua grande maioria, vivem numa bolha das mídias sociais. Então aquela realidade que ela observa nas mídias sociais parece que é o real do mundo como um todo e acaba que não deixa que as pessoas vejam outras realidades. Então hoje eu acho que o papel do jornalista é cada vez mais desafiador. Aí uma das coisas que a gente vem discutindo é a competência informacional. O jornalista trabalha cada vez mais nas suas competências informacionais, na sua busca de informações de credibilidade, para passar esse tipo de credibilidade para as pessoas. Especialmente para a população que tem um nível de leitura menor do que outras pessoas, ou seja, escrever de acordo com o grau de instrução das comunidades. Eu acho que isso aproximaria e pode contribuir para essa recuperação desta confiança. E eu acho que a luta por essa obrigatoriedade de que vá para a profissão aquela pessoa que passou pela faculdade e que foi formada no curso de jornalismo é importante.

Impressões – Estão sendo descobertos influenciadores voltados ao público jovem que são um poço de desinformação. Geralmente utilizam de temas da cultura pop, principal área de interesse atualmente, e passam a desinformação juntos. Muitas vezes, os adolescentes não questionam. O quanto isso é prejudicial às futuras gerações?

Andréa – Sobre essa questão dos jovens estarem muito ligados a youtubers, pessoas que muitas vezes são a fonte de informação ou a fonte de desinformação, ela está na base, na educação básica. E o que isso quer dizer? Hoje, nossa realidade mostra que grande parte, aliás, a maioria esmagadora das escolas da educação básica, que aí a gente pode falar do ensino fundamental ou ensino médio, são escolas, por exemplo, que até hoje não tem bibliotecas. Inclusive a gente tem uma lei, que já tem 14 anos, que prevê a obrigatoriedade da biblioteca escolar, mas a maioria das instituições, públicas e privadas, não cumpre essa lei de possuírem bibliotecas. E aí a primeira coisa é o custo do livro, que é muito caro. Se você tem bibliotecas, você tem acesso a um maior número de informação. Não só a questão dos livros, mas também, a questão relacionada ao acesso a essas outras fontes de informação. Mas isto é evidente quando você coloca profissionais da área que são capacitados para isso, para fazer com que os jovens tenham ou aprendam ter competência na busca do uso de informação. Aí eu falo das pessoas formadas na área de biblioteconomia. Quando você tem uma estrutura de biblioteca, da qual a escola e os professores fazem uso, as pesquisas partem desta busca pela informação. Se você tem este treinamento para o estudante, para essa busca pela informação de forma competente, de forma crítica sobre a mediação de profissionais como os bibliotecários para ajudar neste sentido, você tem jovens muito mais preparados para esse mundo informacional e que não vão cair em qualquer desinformação. O grande problema não é nem acessar essas informações dos youtubers, mas você não ter as competências necessárias para lidar com essas informações, para analisar criticamente essas informações.

ImpressõesComo podemos identificar que determinada rede de notícias não é confiável?

Andréa – A gente tem vários motores que analisam a informação. A Federação de Associações Bibliotecárias (FBAB) e conselho divulgam algumas outras ferramentas. Você tem algumas ferramentas que pode acessar para verificar a veracidade dessas informações. Uma forma de verificar é consultar outras fontes com a mesma informação. Tem de consultar outras fontes, verificar se essa informação é colocada como verdadeira. Está aí uma outra ação que é fazer com que as pessoas possam ser abertas para acessar diferentes agências de notícias, por exemplo. Nas redes sociais é importante você seguir diferentes agências de notícias – sejam elas de esquerda, sejam de direita. Eu acho que o segredo que é esse, até para você ter um parâmetro de comparação dessas informações e na dúvida sempre perguntar ao especialista. Perguntar as universidades, mandar mensagem para os órgãos que podem ser fontes. Por exemplo, se eu vejo uma informação que pode ser falsa na área de saúde, você tem as Secretárias Municipais, as Secretárias Estaduais, você tem o Ministério da Saúde, órgãos competentes nos quais podemos verificar a veracidade da informação. Nunca aceitar toda informação que chega.

EQUIPE DE PRODUÇÃO JORNALÍSTICA:

Edição final: Rogério Borges

Entrevista: Lara Silva Zolet

Fotografias: PPGCOM/UFG

Supervisão Geral: Rogério Borges (Jornalismo Opinativo) e Carolina Zafino (Ciberjornalismo).

*O conteúdo produzido e publicado no Impressões, no espaço do Observatório de Mídia da PUC Goiás, é resultado de um processo de aprendizado pedagógico do curso de Jornalismo da PUC Goiás dos alunos nas disciplinas de Jornalismo Contemporâneo e Jornalismo Opinativo.