Exclusão é motivada pela transfobia, falta de escolaridade e de apoio familiar e social
Por Zaia Angelo
Um dos maiores desafios enfrentados por pessoas trans e travestis é a inserção no mercado de trabalho. Dados da Trans Empregos mostram que o número de profissionais trans empregados cresceu 40% em 2022. No entanto, o avanço em quantidade não acompanha a qualidade. A população transgênero, especialmente mulheres trans, ainda recorre a profissões marginalizadas.
Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população trans no Brasil tem a prostituição como fonte de renda. Isso ocorre devido à exclusão do mercado de trabalho motivada pela transfobia, falta de escolaridade e de apoio familiar e social. Grande parte dessa classe é expulsa de casa muito cedo e precisa garantir uma renda para sobreviver.
A escolaridade é outro problema enfrentado pela população transgênero. Dados do Projeto Além do Arco-Íris/ AfroReggae mostram que apenas 0,02% das pessoas trans estão nas universidades, 72% não possuem o ensino médio e 56% não concluíram o ensino fundamental.
A subcoordenadora de atenção à saúde da população LGBTQIAPQN+ da Secretária de Estado da Saúde de Goiás e mulher trans, Bianca Lopes, alerta para a necessidade de políticas públicas específicas. “Somos iguais em direitos, mas somos diferentes em necessidades. As pessoas não partem do mesmo lugar, por isso precisamos de políticas que considerem o contexto sociocultural e econômico de cada indivíduo trans.”
Bianca Lopes reconhece alguns avanços. “Eu, sendo uma mulher trans e ocupando a máquina de extrativismo do governo do estado de Goiás, é muito simbólico, pois, em geral, são corpos extremante negligenciados. Isso traz esperança, já que com esse olhar eu consigo ajudar outras pessoas trans.”
Já a rapper, dj e mulher trans, Rafaela Lincon, conhecida artisticamente como Anarkotrans, sente dificuldade na quebra do cisnormativo. “Não trabalho mais de carteira assinada e não busco também. Consigo minha renda como dj e prezo minha liberdade, pois alguns espaços são extremamente machistas e misóginos, e isso dentro de todos meus recortes como mulher trans, preta e pansexual”.