Por Clarice Ferraz, Gabriella Serrano e Laís Queiroz
Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás em 2014, Narelly Batista tem uma trajetória profissional marcada por passagens em diferentes áreas da profissão. A jornalista, assessora e produtora cultural é uma das convidadas do Encontro de Egressos 2023, evento que promove o encontro de ex-alunos da instituição para a troca de experiências e que acontecerá na próxima terça-feira (23/5) às 19h no miniauditório 102, localizado no Bloco B do câmpus V da PUC Goiás.
Narelly começou sua jornada na Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Governo de Goiás e, depois, foi para a Rádio Difusora. Do rádio, foi para um jornal. No início, a assessoria de imprensa não era uma opção. No entanto, ela revela que ao finalizar o curso percebeu que o mercado da assessoria lhe traria mais oportunidades.
Depois disso, seus caminhos mudaram e ela conheceu ainda um novo universo como produtora cultural. Atualmente, Narelly atua como assessora do vereador professor Marcos Carvalho (PT) e está na Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, onde desenvolve projetos culturais e de comunicação junto a povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas de Goiás e do Brasil.
Suas experiências em espaços diferentes a fizeram enxergar que o jornalismo e a comunicação social têm um papel social de transformação, além das inúmeras possibilidades dentro da profissão. “Para quem está começando eu aconselho que participem de todas as atividades possíveis da faculdade. Não apenas das aulas, viver a universidade foi muito importante para mim”, orienta.
Nesta entrevista exclusiva, Narelly fala sobre sua trajetória profissional e mercado de trabalho, temáticas que também serão discutidas na atividade presencial.
Foto: reprodução/acervo pessoal
Agência Impressões: O que te motivou a escolher o curso de Jornalismo?
Narelly Batista: O jornalismo sempre foi uma grande paixão. Eu gostava muito de escrever e uma professora do ensino fundamental sempre levava recortes de crônicas e textos diferentes para me incentivar. Ela acreditava que eu seria uma boa jornalista se eu me dedicasse. Quando terminei o ensino médio, eu estava decidida a fazer jornalismo, mas na minha cidade não tinha o curso. Acabei fazendo Engenharia de Produção por 8 meses até convencer meus pais [risos].
A.I: Conte para nós como foi a sua trajetória até chegar na assessoria de imprensa.
N.B: Durante a graduação eu não tinha interesse em assessoria. Estagiei na Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Governo de Goiás, na Rádio Difusora e no Jornal Opção. A redação, tanto do jornal quanto do rádio, me atraíam muito mais, no entanto, quando concluí o curso, haviam muitas vagas para assessoria de comunicação e imprensa e quase nada para veículos. Além das vagas serem mais interessantes financeiramente na assessoria, eu entendi que era um mercado que me permitiria mais oportunidades. Por meio dos estágios curriculares e das atividades extracurriculares oferecidas pela própria universidade acabei conhecendo muitas pessoas que foram indicando e orientando sobre vagas.
A.I: Como foi o seu processo de entrada no mercado de trabalho? Você enfrentou grandes dificuldades?
N.B: Quando eu terminei a graduação, eu fui efetivada na Rádio Difusora. Foi um processo natural de entrada. Minha maior dificuldade era repensar a minha morada, já que sou de Anápolis e mesmo com o emprego, ficava bem apertado para me manter em Goiânia. Fiquei 8 meses na rádio e então os diretores da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, entidade cultural para quem eu fazia alguns freelas, me convidaram para a execução de um projeto de biblioteca virtual da cultura popular, a Encontroteca, na Chapada dos Veadeiros. O projeto previa um trabalho in loco de 3 meses. Decidi apostar já que a oferta era bem legal financeiramente e com oportunidades de viagens e experiências em outros territórios.
Leia mais: Narelly Batista: o jornalismo e a comunicação social têm sim um papel social potente de transformaçãoA.I: Além de assessora de imprensa, você também é produtora cultural. Como a sua trajetória no campo da cultura se desenvolveu?
N.B: Depois de aceitar integrar a equipe da Encontroteca, comecei a escrever projetos culturais. Com a formação em comunicação, escrever era simples e associada a uma equipe que já tinha experiência em aprovação de projetos e em setores técnicos como orçamento e produção executiva, comecei a desempenhar este papel em paralelo à assessoria de imprensa e comunicação. Ao longo dos anos fui conhecendo muitos produtores que tinham formação em jornalismo. Não tenho dúvidas que a faculdade de jornalismo me deu as ferramentas necessárias para ingressar nessa área. Não havia uma disciplina para isso, mas a nossa formação profissional já é uma construção técnica para a atividade.
A.I: Você trabalha junto à Casa de Cultura Cavaleiro São Jorge desenvolvendo projetos de comunicação e produção cultural com povos originários de Goiás e do Brasil. Nos conte um pouco mais dos projetos que você desenvolve.
N.B: A Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge é uma organização de mais de 25 anos que desenvolve projetos diversos de salvaguarda do patrimônio histórico e imaterial de Goiás. Hoje atuo especificamente na comunicação dos projetos da casa e na produção de alguns. Lá temos dois projetos focais: a Aldeia Multiétnica, que nasceu em 2007 e tornou-se um ponto de encontro entre diferentes povos indígenas como Kayapó/Mebêngôkré (PA); Avá Canoeiro (GO); Krahô (TO); Fulni-ô (PE); Guarani Mbyá (SC); Xavante (MT); e Yawalapiti, Kamayurá e Waurá, do Alto Xingu (MT).
No evento, realizado em toda primeira semana da segunda quinzena do mês de julho, eles se reúnem para apresentar seus saberes, modos de fazer e usos e costumes de diversas maneiras (cantos, dança, gastronomia, pinturas corporais, arte); compartilhar as lutas por seus direitos originários e para manter suas culturas e territórios tradicionais; e debater com indígenas e não-indígenas as temáticas a respeito da realidade nas aldeias, por meio de rodas de conversa e da convivência diária com os participantes.
Além do evento anual realizado no mês de julho e das vivências esporádicas que acontecem em determinados meses, a Aldeia Multiétnica também está aberta para receber grupos, cursos, palestras e imersões. Temos uma hospedaria aberta o ano todo, com quartos duplos e triplos, café da manhã e opções de refeições. Nossos hóspedes têm a vantagem de contar com o acesso ilimitado, enquanto estiverem hospedados, a uma prainha exclusiva da Aldeia no Rio Couros, além das cachoeiras Almécegas I e II.
E o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que em toda quinzena do mês de julho recebe espetáculos que unem música, dança e fé e traduzem a essência de povos indígenas, mestres, brincantes, catireiros, violeiros, artistas e representantes de diferentes tradições da cultura brasileira, refletindo a riqueza do patrimônio cultural imaterial produzido nos interiores do Brasil. Com isso, ao longo dos anos, tornou-se referência no debate sobre as culturas populares do país, reunindo a cada edição mestres da cultura tradicional e representantes do poder público e da comunidade em geral.
De modo geral, atuo na produção executiva desses projetos, articulando recursos e parceiros para captação, além de responder por parte da comunicação.
A.I: Você já fez parte da Skambau Produções. Como foi trabalhar em uma empresa voltada para as questões com educação e mulheres? Qual foi o projeto mais bacana que você desenvolveu?
N.B: Na Skambau fui assessora de imprensa e comunicação em alguns dos muitos projetos desenvolvidos pela minha amiga e parceira Manoela Barbosa. Os projetos da Skambau são todos muito bonitos e com um caráter educativo bastante potente.
Não tenho dúvidas de que fazer a assessoria de imprensa do lançamento do livro Maria da Penha nas Escolas foi bem especial. Primeiro porque o projeto é cuidadoso a um nível muito legal tendo uma preocupação com a forma que o material seria distribuído nas escolas, como os educadores podem explorar o conteúdo com uma cartilha que propõe atividades com base na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e uma versão em braille que deixa o projeto de fato inclusivo.
A.I: Atualmente você está na equipe de Comunicação Social do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO). Como funciona a sua rotina e quais as atividades exercidas no TJGO?
N.B: No Tribunal de Justiça estou como repórter da equipe de Audiovisual. É com toda certeza um espaço bem diferente dos outros pelos quais passei. Nós temos demandas internas, relacionadas a comunicação institucional para os magistrados, produzindo muitos materiais que ficam apenas dentro da estrutura e agora temos aberto espaço para uma produção que alcance o Youtube com VTs institucionais, videocasts e vídeos curtos para as redes sociais. Hoje trabalho no Tribunal de Justiça no período vespertino (em Goiânia) e no gabinete do vereador professor Marcos no período matutino (em Anápolis). Então estou sempre correndo, o que acredito que me força sempre a ser mais ligeira com as demandas, envio de releases, entrega de prazos. Tudo é feito para já. Acho que isso faz a diferença na entrega que fazemos para o nosso assessorado.
A.I: Qual o momento mais difícil da sua carreira como assessora? Já pensou em desistir da área?
N.B: Não consigo dizer que tenha sido difícil, mas sei que foi uma experiência bastante intensa. Trabalhar com a assessoria de imprensa e parlamentar é uma dessas experiências que me ensinou bastante e me fez refletir muito sobre querer ou não me manter na comunicação.
Estive na assessoria do deputado estadual Antônio Gomide (PT). Ele é, sem sombra de dúvidas, um parlamentar muito exigente com a assessoria de imprensa e a comunicação. Um parlamentar que valoriza um bom texto e que sabe o quanto vale a atenção do assessor. Isso foi fantástico, pois aprendi muito e entendi melhor sobre a importância de profissionais com formação antenados no que acontece. A assessoria de imprensa com este parlamentar mudou a minha vida. Isso porque eu estava sempre em alerta. A dinâmica de clipagem, rádio escuta e produção de conteúdo é algo que a gente se acostuma, mas o espaço político nos força a redobrar os cuidados. Sobretudo em período eleitoral. É um barato. Eu adoro, mas confesso que adoeci vivendo essa rotina durante a campanha de prefeito em Anápolis, ao mesmo tempo que vivíamos a pandemia.
Se por um lado ampliei meus contatos e minhas perspectivas profissionais lidando com todos os setores de uma comunicação de campanha eleitoral, também pensei se era isso mesmo que queria. Vivemos grandes crises. Na verdade, campanha política é em si a administração de crises por todo o período eleitoral. Passou rápido a sensação depois que acabou. Vi depois que era só o acúmulo de trabalho durante um momento que o mundo todo vivia uma grande pandemia. A administração de crises que enfrentamos no trabalho não deve ser levada para casa. Aprendi isso dessa história. Estar sempre em alerta sim, mas lembrar que o novo sempre vem.
A.I: Quais são as dores (dificuldades) e os prazeres que existem na sua área?
N.B: A comunicação é uma área com inúmeros desafios. É um espaço que está o tempo todo em atualização. Eu saí da graduação já me sentindo defasada em algumas áreas. Acho que cada vez mais o jornalista é convocado a se atualizar. Isso é cansativo, mas também é potente. É uma área cheia de movimento, de encontros, de novidades. Também percebo que nenhum lugar é igual ao outro. Nenhuma empresa, órgão, instituição se comunica do mesmo jeito. Então isso, quando ficamos muito tempo em um lugar só, nos faz pensar que não sabemos nos comunicar e fazer nosso trabalho.
A.I: O que mais te chama a atenção na área em que você trabalha?
N.B: Sou privilegiada por trabalhar em espaços muito diferentes uns dos outros. Estou hoje oficialmente integrada a três instituições, além dos muitos freelas [risos], e isso me faz ver coisas bem diferentes em cada um dos lugares: no TJ eu amo muito a forma como a assessoria de imprensa funciona. Embora eu esteja no audiovisual, acompanho e aprendo muito com a responsável pelo setor (a jornalista Aline Leonardo); na assessoria de comunicação do vereador professor Marcos, gosto muito da assessoria de imprensa, da criação das narrativas e das formas que conseguimos de espalhar isso nos veículos de comunicação; na Casa de Cultura me realizo percebendo que o jornalismo e a comunicação social tem sim um papel social potente de transformação. Muita gente sai da faculdade e se decepciona. Eu me canso, acho que trabalho muito e poderia trabalhar menos com melhores condições financeiras, mas confesso que me angustia muito estar atrelada a apenas um universo. Eu, definitivamente, sou apaixonada pela profissão.
A.I: Qual dica você oferece para os estudantes de jornalismo que desejam trabalhar como assessores?
N.B: Compreender que todo mundo que você conhece te é importante para o exercício da sua profissão. A assessoria exige fatores técnicos que aprendemos na faculdade, mas também exige uma disposição social importante de gostar de ouvir, de se comunicar, de guardar as pessoas como gente e não apenas como números. É preciso criar relações. Ninguém é melhor do que ninguém.. esse tipo de informação que parece boba, mas que na minha vida profissional fez e faz muita diferença. Durante a graduação conheci a maioria dos parlamentares e assessores que já busquei como fonte, parceiro ou meio de emplacar as narrativas que precisava.
A.I: Qual conselho você dá para os alunos que estão iniciando a graduação? E para os que já estão finalizando?
N.B: Para quem está começando eu aconselho que participem de todas as atividades possíveis da faculdade. Não apenas das aulas, viver a universidade foi muito importante para mim. Participar de núcleos de pesquisa, de projetos de extensão e mesmo da política estudantil foi bem importante para o que construímos depois que saímos do prédio da faculdade. Para quem está concluindo, eu aconselho a acreditar na formação que recebemos na instituição. Na minha época eu ficava bem ansiosa quando precisava passar por seleções e descobria que tinha alguém da UFG por exemplo. Uma bobagem. A graduação na PUC em nada perde para outras instituições e além disso, não há nada que não possa melhorar depois de muitas perguntas, observação e vontade de aprender.
Leia mais: Narelly Batista: o jornalismo e a comunicação social têm sim um papel social potente de transformação