sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
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Palestra sobre alteridade reúne ativistas indígenas 

Temas sobre protagonismo, violência e tolerância étnica foram discutidos e reforçam a luta pela cidadania dos indígenas.

*Crédito da foto de capa: Palmas - Marcos Terena, um dos organizadores dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, é erguido por membros de sua etnia (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Por Lara Aparecida Fagundes, Isadora Máximo Soares e Maria Débora Vieira

Logo após a abertura da Semana dos Povos Indígenas realizada pela PUC Goiás, na noite desta segunda-feira (17/3), transmitida pelo canal do YouTube, foi realizada a mesa Alteridade, mediada pelos professores Nicali Bleyer (PUC Goiás) e Victor Passuello, da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Os palestrantes Marcos Terena, ativista e líder indígena, e Gersem Baniwa, líder indígena e doutor em antropologia social, ressaltaram a temática na perspectiva histórica da luta pelo exercício da cidadania.

Marcos Terena refletiu sobre a importância dos povos indígenas na cultura da paz associada a alteridade. “Eu posso ser o que você é sem deixar de ser quem sou”, frisou. Ele defendeu a ideia de que o protagonismo indígena não pode ser apenas a oportunidade de ser indígena dentro de um contexto acadêmico ou religioso, e sim, dentro de um contexto de cidadania indígena. 

O ativista relatou ainda que os indígenas foram submetidos ao longo da história a participar da violência do mundo do homem branco contra a própria vontade. “Nossos jovens, inclusive meus tios, foram para a guerra e mataram muitos alemães sem saber porquê estavam matando os alemães, na região da Itália. Eles passaram muito frio, mas voltaram e disseram nunca mais vou para a guerra”, relatou.

Marcos Terena aprofundou o debate sobre a importância dos jogos indígenas e os valores retificados, como a valorização da identidade cultural, resgate das línguas e reafirmação da dignidade indígena.

Terena é ativista e auxiliou deputados federais na Constituinte de 1988 no capítulo sobre os povos indígenas e carrega o título de primeiro indígena a se tornar piloto comercial de aeronaves.

Marcos Terena| Reprodução: YouTube/PUC Goiás

Coordenador geral de Educação Escolar Indígena da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), do Ministério da Educação (MEC), o filósofo Gersem, mestre e doutor em Antropologia Social pela UnB, representou o povo Baniwa. Ele ressaltou o peso histórico do encontro dos povos nativos com outras etnias, como o que aconteceu no Brasil no ano de 1500, com a chegada dos portugueses. 

“Talvez a palavra mais próxima que expressa aquele momento seja isso: um encontro. Um encontro de civilizações, encontro de povos, encontro de sociedades, encontro de culturas, encontro de mundos”, enfatizou Gersem.

Além de destacar a importância da ancestralidade indígena no Brasil, Baniwa traçou uma linha histórica da relação violenta entre os povos originários e o homem branco europeu. 

“Essa profundidade desse encontro de estremecimentos também gerou e resultou absurdos polarizados, extremos. Resultou em práticas extremas, como, por exemplo, a extrema violência praticada pelos colonizadores europeus contra os povos indígenas”, afirmou Gersem.

Ao tratar de etnocentrismo e desequilíbrio nos encontros, Gersem Baniwa apresentou fatores desencadeantes, característicos do pensamento ocidental europeu. “É uma mistura entre fascínio, medo, inveja e repulsa.” 

Gersem Baniwa Luciano, Nicali Bleyer, Marcos Terena, professor Victor Passuello (UEG) e a mediadora Nicali Bleyer, professora da PUC Goiás. | Reprodução: YouTube/PUC Goiás

O professor relatou que tais fenômenos etnocêntricos produzem a busca pela eliminação, dominação e subjugação. Segundo ele, os fenômenos ocorreram no contexto homem branco-indígena, porque os povos indígenas “desafiaram estruturalmente as civilizações ocidentais europeias”.

Baniwa abordou ainda a alteridade como viés para a realização de conquistas emancipatórias e do protagonismo indígena. “Os povos indígenas crescem significativamente como atores e sujeitos importantes na vida nacional”, afirmou.

Gersem Baniwa Luciano e professor Victor Passuello (UEG)| Reprodução: YouTube/PUC Goiás

A discussão também abriu espaço para as diferenças entre conceitos religiosos indígenas e não-indígenas, além de abordar a opressão e apagamento étnico dos costumes dos povos originários. “Existem religiões, existem diferenças, mas existem essas que continuam com esse mesmo discurso, com essa mesma prática de condenar, de amaldiçoar, de negar as tradições indígenas”, concluiu Baniwa.

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Editora Geral: Gabriella Serrano 
Editor de Redes Sociais: Diego Augusto 
Editora do texto: Nívia Menegat 
Repórteres: Lara Aparecida Fagundes, Isadora Máximo Soares e Maria Débora Vieira
Imagens: Nívia Menegat, Mariana Alves Ferreira Milioni, Mariana Machado Carvalho e Laís Queiroz Ribeiro
Supervisão Geral: professora mestre Carolina Zafino, da disciplina de ciberjornalismo e professora doutora Noêmia Félix da Silva, da disciplina de jornalismo científico e ambiental.